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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Magia no RPG: bonitinha... mas ordinária!

Se tem uma coisa que eu realmente não aturo mais nos jogos de RPG é a forma, pra lá de simplista, que a magia é abordada. Acho que eu sou muito mimimizento com isso. Meus amigos já não aturam mais minhas reclamações quanto a sistemas mágicos. Já criamos um sistema independente, já adaptamos coisas a sistemas específicos, e por aí vai, muito disso devido a criatividade do pessoal e também ao meu ranso.

Bom, alguns dos reais motivos que me fazem encher o saco com a magia no RPG:

- Magos são overpower.
    Já começamos com o pé esquerdo amigo. Serão overpower, só se o mestre deixar. Vejam, ser uma mago em um mundo qualquer deveria ser extremamente difícil. O personagem mago deveria ter um monte de requisitos, tais como, código de honra, voto, inimigos (grupo), aliados, magnetismo sobrenatural, idade, entre outros. Deveria necessariamente fazer parte de uma guilda de magos e responder a ela caso faça cagadas por aí.
    "Ah, mas daí eu não posso fazer meu mago independente, jovem, louco, distraído, megalomaníaco e sem as mãos..." Como não pode? Claro que pode! A única coisa é criar uma história convincente para isso. Uma sugestão de história muita suja: O mago jovem pode ser uma espécie de avatar mágico, nasceu imbuído de magia. Tanto poder mexeu com os miolos dele, que ficam toda hora fora do lugar. Por conta disso tudo, ele é "meio" distraído. Faz uma bola de fogo explosiva e quando vê uma borboleta, pira, joga a bola de fogo pro lado e sai correndo atrás do bichinho. Claro, ele quer dominar a todos. Bom, ele perdeu as mãos quando foi fazer suco de cana :P
    Portanto, magos não são overpower coisíssima nenhuma. Um bom mestre pode balancear bem as coisas. Mais ou menos seguindo a idéia de Vampiro: A Máscara e Mago: A Ascensão, resolver tudo na magia é levantar o véu ou coisa que o valha. A energia mágica deve ser usada com sabedoria, tanto pro bem, quanto para o mal. Claro que seu for malvadão vou tentar deturpar isso um pouquinho... E aí o mestre deve entrar com tudo e dar os devidos penalties! Caçadores de bruxa, Inquisição religiosa, demônios, anjos, fadas, duendes, outros magos, guildas... A lista de inimigos que se sintam atingidos pelo uso indiscriminado da magia pode ser absurda! Assim, acho que dá para um mago ter poder, desde que não exista uma enxurrada de magos pelo mundo.

- O mago usa a sua própria energia para fazer magias.
    Puxa, isso dá muito enrosco comigo. Eu não acho legal que um cara que sofra tantos penaltys (se o mestre seguir a idéia ali de cima) e ainda tenha que se borrar todo ou ficar impotente no meio de uma luta. Isso sempre foi broxante para mim. "Seja criativo!" Sei... Até eu tentar uma magia e ter que ser carregado pelos outros personagens...
    Olha, esse não é o real problema. Só acho que seria interessante que ele durasse mais tempo. "Gemas de energia!" Claro, todas bem acessíveis! Isso é só uma muleta. Mais tarde vou detalhar minha idéia sobre isso.

- A "tripa" mágica
    A "tripa" é principalmente conhecida pelos jogadores de GURPS. Você compra magias, uma a uma, formando o seu grimório, anotado em uma coluna da planilha de persongem, formando a maldita "tripa".  Eu sei que o GURPS é um sistema aberto e que se o mestre disser que pode comprar uma escola inteira, desde que pague o custo, tá tranquilo. Ah, e que ele pode escrever em linhas se quiser, num papel de pão. Também sei.
    O problema é aquele monte de magias, onde, um dia, talvez, se tu tiver as 8 gemas de energia, não tiver feito nenhuma magia no dia, tu vais poder usar a "Abismo infernal" e salvar a todos. Claro, grandes sacrifícios... Béh! Comprar uma quantidade gigante de magias só pra usar aquela lá... Novamente o sistema de verbos mágicos (Mago: A Ascensão, Magia de Improviso do GURPS) me parece muito mais interessante. Ainda assim, uma idéia ainda melhor é níveis para cada mago, o que libera só um determinado "pool" de magias. Assim, a medida que o personagem sobe de nível ele pode comprar as magias que deseja, dentro daquele pool, de acordo com a história ou alinhamento ou terreno... Uma infinidade de coisas pode ser criada aí.
   

- Magia negra ou branca?

    Essa é outra discussão interessante e que seria um grande penalty para aventureiros mágicos. O que seria a magia negra? Aqueles que lidam com necromancia, demônios, destruição em geral, são magos negros. Ah é? Simples assim? Os outros são bonzinhos? Vamos discutir isso daqui a pouco.


- Criar e transformar
    Uma das coisas mais irritantes são magias tipo criar e transformar. Criar a partir de magia, na minha opinião, algo elemental como "água" deveria ser extremamente difícil. Tá, a energia mágica foi manipulada de tal forma que se formou em água... Bom, o nível de manipulação do querido deve ser alto pra caramba então... Na verdade, qualquer mago chulé faz isso no RPG. Cara, Uma idéia muito interessante que li em um livro é que nada é criado do nada usando magia. Nesta sistema, se eu "criar água" ela vai surgir, mas, em algum lugar do mundo (astral, mágico, terreno), água foi "descriada". Nesse caso, o criar e o transformar, passam a ser algo um pouco mais como "realocar". A água é "magicamente transportada" de um lugar para outro. Essa uma idéia que também gera muito histórias. Vamos falar de magos porradas: Gandalf. Se vocês puderem citar uma vez em que o Gandalf cria alguma coisa do nada, eu gostaria de saber. Sério. O do filme então, nem se fala. Acho que em momento algum isso é observado. Ele possui um staff, cristal no staff (luz!), espada (úia), mas não cria coisas do nada! É o mega blaster da magia. Tolkien concordava comigo :P

Qual é a minha concepção de magia e mago:
    A magia é uma força natural. Ela está presente em tudo que é natural: plantas, pedras, água, ar, espírito, estrelas... Para dominar esta energia, o mago precisa ser um estudioso. Ele precisa estudar os que vieram antes dele e fizeram experimentos que os permitiram manipular essa energia. Uma vez que você compreende a forma básica de manipulação de energia, você pode usá-la para fazer magias!
    Simples, não? Assim, fazer magias como "Fogo" deve ser algo simples, sem gastar energia. "Isso já existe e se chama Aptidão Mágica. Tá no GURPS!" Eu sei disso. É uma ótima tentativa de balancear as coisas e modificar os custos de magia... Só que todo mundo faz magos com AM +3! "Eu não! É muito melhor jogar com um mago com AM +2 ou AM +1!" Ah, fala sério! Deve haver jeitos menos engessados de fazer isso. Uma forma interessante é um sistema que dependa ou SOMENTE da energia do ambiente ou de um SISTEMA MISTO de gasto energético.
    Isso pode enriquecer muito uma aventura. Neste caso o mago dependeria do mana local. Isso explicaria, por exemplo, porque magos seriam estudiosos "reclusos". O lugar que eles realizam seus experimentos deve ser cheio de mana, o que facilitaria a manipulação e execução mágicas. Outro fato interessante relacionado a gasto energético e magias: magias complexas demoram mais. "Isso também tá..." Eu sei! Eu sei. Mas a idéia não é essa. A idéia é penalizar o mago muito mais pelo tempo que ele precisa para "preparar" e "canalizar" a mana do que propriamente o gasto energético. Por exemplo, se ele usar magia do próprio corpo ele pode dar um "boost" temporal na magia, isto é, diminuir o seu tempo de execução. Mais ou menos como fazer uma mágica rápida e suja. Contudo, a penalidade deve ser adequada: usar energia vital reduz o tempo, mas se houver choque de retorno (falha) da magia, o mago sofre o dano igual ao total de pontos usados (isso é só exemplo). Dá pra adaptar coisas mais balanceadas.
    Um exemplo: Jujuba (mago iniciante) quer fazer a magia "Abismo infernal". Evidentemente, esta não é uma mágica do nível de aprendizado dele. De cara, ele já teria largado. Supondo que ele tenha níveis suficientes, Jujuba se defronta com um sério problema: o custo não só em mana, mas o tempo necessário para manipular toda essa energia, com a capacidade que ele possui, para realizar tal façanha. Segundo seus cálculos, Jujuba teria que ficar 1 mês ininterrupto "conjurando" para realizar a magia. Ele pensa e decide usar sua força vital. Feliz, ele descobre que usando este artifício o tempo fica reduzido para apenas... 15 dias! Jujuba vai embora e desiste de fazer tamanha asneira!
    Outra possibilidade é juntar um grupo de magos para reduzir ainda mais o custo...
    Outra ideia interessante é que o mago precisa de apetrechos que diminuem o gasto energético na hora de manipular essa energia: adagas, temperos, giz, cristais... entre outros. E ele ainda deve preparar, juntar tudo do jeito certo.
    Quanto a magia branca ou negra, porque não um sistema que caracteriza magia negra da seguinte forma: TODA e QUALQUER magia que for feita influenciando ou infringindo o livre-arbítrio de cada um, é magia negra? Legal? Até cura pode ser magia negra! Basta que a pessoa não concorde em ser curada. O mago herói deveria ser muito cuidadoso, não?

    Bom, é isso de momento. Meus amigos mimimizentos, deleitem-se.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

É possível fazer literatura no Brasil?

Creio que a resposta é sim. Atualmente, temos um mercado ávido por novidades, fato que se justificativa pela estrondosa participação de pessoas na maioria das feiras de livros espalhadas pelo país. Entendo que isto não significa vendas elevadas, mas parece que o público que lia livros desde criança busca agora uma literatura diferenciada.

Vejam pro exemplo a última coluna do Raphael Draccon. Nesta coluna ele cita o sucesso da literatura de fantasia no país e alguns dos autores que alcançaram este status. Ele aponta também algumas razões que contribuíram para este fato e vai um pouco mais longe, apresentando algumas interessantes ideias sobre formas de aumentar o gosto pela leitura no Brasil. Uma leitura bem interessante para quem deseja se aventurar neste ramo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Game of Thrones - O Jogo dos Tronos - UPDATE: A Guerra dos Tronos

Estava eu despreocupado da vida quando dei uma olhada no Sedentário, na coluna Cavernas e Dragões do Raphael Draccon. Ele vai trazer para o Brasil, junto com a Editora Leya um dos livros de fantasia mais comentados dos últimos anos, O Jogo dos Tronos A Guerra dos Tronos (A Game of Thrones). O livro faz perte da septologia A Song of Ice and Fire.

Para quem gosta deste tipo de leitura, a série já ganhou diversos prêmios e tem uma legião de fãs espalhada pela mundo. Escrita por George R.R. Martin, o próprio Draccon brinca dizendo que "Martin é Tolkien para adultos".

Para quem quiser saber mais a respeito tem um link na Wikipédia e a HBO planeja fazer uma série sobre a história (tem um vídeo do Youtube no post original do Draccon).

Maiores informações podem ser obtidas direto no post do Draccon.

Eu que sou um entusiasta confesso da literatura fantástica fico muito feliz com a iniciativa. Aliás, se alguém já tá lendo o livro no original e quiser comentar avisa aí.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Akhlot - A História de Finli - Parte 3

Bom, Finli é um daqueles personagens do qual eu gosto muito. Sempre estou desenvolvendo algo pra ele, assim como essa história que eu tenho a pretensão de um dia transformar em livro.

Os capítulos anteriores podem ser lidos AQUI.

Deixo agora pra vocês a 3ª parte desta história.

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O vento continuou a soprar gelado nas encostas de Akhlot. E a neve que continuava forte gelava não só a montanha, mas os corações de quem nela viviam. Sua irmã, Uliana, sabia do forte laço de amor que Finli tinha para com o pai, uma vez que o sentia em igual intensidade. Contudo, ela já não sabia o que mais açoitava o seu coração: se era pela falta do pai amado ou do seu irmão tão querido. Tão iminentes eram ambas as situações que se apresentavam, que Uliana era várias vezes vista chorando, tentando esconder o rosto em suas grossas tranças, enquanto realizava a cata de Gramuhela.

Infelizmente o chá de Gramuhela já não surtia efeito algum em Manthir. Sua dor agora era grande, mas o Akhlotiano nunca sequer demonstrou seu sofrimento. Desde o juramento de Bhandir a Betelguese, durante mais 5 meses, Finli adiou seus planos de se retirar da montanha que sempre fora sua morada. Enfim, com a chegada do 6º mês, e o surgimento de Heimdall no céu, Hera requisitava a presença de Manthir. A morte havia chegado.

Nos últimos dias da vida de Manthir, Finli se comportou de mudo muito parecido com ele. Sisudo com todos, com um tom de voz baixo e grave. Poucos sabiam o quão bonachão era um dos senhores de Akhlot. Manthir era assim com todos, exceto com Ursal, amigo de inúmeras batalhas, ainda assim, mais novo que Manthir, e seu afilhado Bhandir.

Quando Ursal e Bunya levaram seu filho Bhandir para que um dos senhores de Akhlot, Manthir, o tomasse como afilhado, alguns olhares invejosos e risinhos jocosos se espalharam pelos corredores da montanha cinzenta. Afinal, quanta ousadia um ferreiro podia ter? Contudo, poucos eram os Akhlotianos que sabiam do companheirismo entre ambos, das agruras da Guerra do Poço de Ankor-Tronin. Poucos podiam lembrar. Muitos anos já haviam se passado sem guerras e poucos eram os sobreviventes delas. Ainda assim, Manthir tomou o garoto nos braços como se fosse seu filho. E o criou com Finli, mesmo com a sentida falta que sua mulher, Ulia, lhe fazia. Talvez isso tenha sido o principal motivo que manteve Manthir tanto tempo vivo.

E era da época da infância que Finli tinha mais saudade. Talvez pelas histórias do pai, o carinho a tanto perdido de sua mãe e pelas diabruras feitas junto com Bhandir. Finli cresceu alegre, e bem menos sisudo que seu pai. Agora, porém, ele só sentia a dor que permeava a tudo e a todos em Akhlot.

No dia do funeral, Finli seguia com o cortejo que passava no largo principal de Akhlot. O corpo do seu pai jazia à frente, crivado de pétalas de Lhitia azuis, brancas e amarelas, colhidos pelos jovens que o circundavam. Atrás, viam ele e Uliana de braços dados. Uliana se desfazendo em lágrimas, mas quieta. Finli tinha sua face cristalizada de dor. Logo atrás vinham Ursal, Bunya e Bhandir.

Pelo menos 3 reses atrás, seguiam o restante dos moradores de Akhlot. Alguns carregavam pequenas bigornas na cintura e um martelo na outra mão. De tempos em tempos, eles brandiam o martelo contra a bigorna, lembrando a todos que Akhlot e feita de ferro e assim como são seus filhos.

Outros carregavam velhos estandartes de guerra, lembrando do passado heróico de Manthir. Finalmente o funeral tinha alcançado o topo de Akhlot pelas Escadas da Penintência. A neve branca parecia ainda mias alva. Um céu completamente nublado parecia dar as boas vindas a Manthir, uma vez que um rasgo do tamanho do topo de Akhlot se abria no céu, jogando luz, naquele pedaço de terra. Vendo o inusitado espetáculo que se descortinava a sua frente, Finli olhou para trás, como se achasse indigno daquilo. Ele então, caiu de joelhos. Sem emitir sequer um som, as lágrimas começaram a correr vívidas na sua face. Seu olhar marejado percorria um mar de sres que choravam junto à morte de um dos mais respeitáveis criaturas de Akhlot. Era impressionante ver o quanto aquele senhor de poucas palavras era querido, ou pelo menos, respeitado como um herói de Akhlot deve ser.

Erguendo-se com a ajuda de Ursal e Bhandir, foi lhe passada a tocha de Sutur para a Purificação. O corpo de seu querido pai agora estava posicionado na Passagem de Valqui e pronto para partir.

- PAI! – gritou ele, erguendo a tocha e ateando fogo ao corpo do seu pai. Seu bramido era um longo e profundo lamento, um berro de desespero. Um pedido para que as portas de Valqui estivessem abertas para quando Manthir ali chegasse.

Em resposta, a multidão que prestava seus respeitos fez um barulho ensurdecedor de metal e gritos erguidos aos céus. Todos ali se emocionaram com o fim de Manthir, no dia que depois ficou conhecido como Hera-Undin-Manthir.

E então, fez-se o silêncio. Finli olhava o crepitar do fogo. O reflexo do fogo na neve branca fazia-o parecer uma chama quase azul. O céu abruptamente se fechara, e pequenos flocos de neve caíam sobre todos. A purificação de Finli também havia chegado com o fogo que agora consumia o corpo de seu pai. Ele não tinha mais nada a fazer ali. Era chegada à hora de Akhlot presenciar a partida de mais um de seus ilustres filhos, para que um dia a Montanha Cinzenta pudesse vê-lo retornar.

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

AKHLOT - A História de Finli - Parte 2

A noite fria de Akhlot contrastava com a efervescência da Montanha Cinzenta, onde Finli se encontrava. A montanha, que muitas vezes seus próprios habitantes preferiam chamar de Akhlot, não revelava sua verdadeira essência a primeira vista. Ela era nada menos que a própria Akhlot, o local de morada de praticamente todos que habitavam aquele região. Seus complexos túneis, saídas e entradas, formavam a Akhlot que Finli conhecia. Nesta época, entretanto, o aspecto cinzento da montanha cedia ao branco gelado típico do inverno. Ao olhar do Oeste, um pico branco salientava-se no horizonte, coroando os verdejantes gramados típicos do Oeste.

E por mais festiva que Akhlot estivesse naquela noite, em um ambiente de música, comidas temperadas e vinho, Finli era uma ilha de solidão. Ursal e seu filho, Bhandir, aproximaram-se de Finli com uma vigorosa caneca de hidromel.

- Ainda lembro de quando você não possuía barba... Eu o chamava de Finli, o pequeno.
- Ora meu pai, não desmereça Finli! Hoje poderíamos chamá-lo de Finli, o largo, ou o calvo ou ainda...
- Ou ainda de o quebrador de dentes...

Finli vociferou as palavras para Bhandir. Bhandir cerrou a testa e pareceu rosnar, olhando firme para Finli, que era um pouco mais baixo que ele. Ursal e outros em volta ficaram um pouco apreensivos. Uma vez que os moradores de Akhlot brigavam, dificilmente algo os fazia parar, até que tudo em volta não estivesse destruído.

O fato durou pouco mais de dois segundos. De repente, um grita com o outro. Olhos nos olhos eles se abraçam e riem :
- Viva Akhlot! Viva Ursal e seus descendentes!
- Vida longa a Manthir e seus filhos! E os filhos destes!

Todos percebem a brincadeira, e riem e gritam em congratulação.

- HÁ! Não acredito que achavam mesmo que brigaríamos! - disse Bhandir levando a goela um generoso gole de hidromel.
- Ainda somos jovens demais meu amigo, para os túneis e habitantes de Akhlot. Só espero que esteja certo quanto ao meu pai. - arrematou Finli, com um sorriso amarelo estampado no rosto.

Ursal sentia a dor que o próprio Finli sentia por seu pai. Manthir fora grande amigo de Ursal, trabalhando longamente nos túneis de Akhlot. Infelizmente, Herah se aproximava impiedosa sobre Manthir, cujos anos pesavam agora duramente sobre suas costas.

- Seu pai será lembrado para sempre, Finli. Até mesmo as paredes de Akhlot murmurarão seu nome quando ele se for. Os Filhos de Manthir continuarão sua valorosa jornada na terra de Akhlot. E se as paredes esquecerem seus nomes, nosso corações guardarão sua imagem, influência e presença. Finli, filho de Manthir, seu pai já tem o lugar em Valqui.

Finli sorri candidamente. Ele abraça Manthir enquanto finas lágrimas escorrem pelo seu rosto. Emocionado, Bhandir, cujo nome fora inspirado em Manthir, dirigi-se a janela, escondendo a fronte já lavada pelas lágrimas.

Silenciosamente, Bhandir pede a Betelguese a estrela de Akhlot brilhando firme no céu:
- Oh deusa dos céus, Betelguese! Permita que Manthir recupere sua boa saúde. Eu pessoalmente não quero que Finli se vá, enfrentar a própria Hera em terras estrangeiras. Mas se for de sua vontade, então eu seguirei Finli onde for para não permitir que sua maldade o persiga mais!

Bhandir sabia que suas palavras eram vazias. Ele não podia nada contra os deuses celestiais. Na verdade, Bhandir queria apenas que seu melhor amigo Finli não procurasse Hera tão de perto quanto ele planejava. Seria duro demais mesmo para os corajosos e duros Akhlotianos perder o último dos filho homem da família de Manthir.

Enquanto isso a noite seguiu festiva, com o vento a soprar gelado e firme contra as encostas da Montanha Cinzenta, escondendo da visão de Akhlot o mal que se formava no Leste.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

A Natureza dos Seres

Há muito não o via: Barak Uldur, O Renegado. Um orc perseguido pelo seus. Não que este não seja um fato comum entre eles. Todavia, esta história tem a interferência de um ser humano. Um a interferência que talvez tenha custado a vida e a reputação de Barak entre os seus, para sempre.

Houve uma época, em que eu ainda era um aprendiz, quando fui designado para uma tarefa um tanto quanto esquisita: deveria observar o tempo que julgasse necessário uma família de orcs. Nunca esperava algo assim. Mas, Mestre Kyril, O Fogo Verde, jamais explicava nada a seus alunos. Simplesmente devia cumprir a missão, enquanto eu seria avaliado pelos enviados dele. Como, eu sequer imaginava.

Consegui detectar uma família de orcs nas Montanhas de Lydia. Fui até lá, e lancei um feitiço de invisibilidade em mim mesmo. Subi em uma frondosa árvore que ficava em frente da toca dos orcs e esperei.

Pouco vi senão aquilo que eu já sabia sobre os orcs. Seus hábitos detestáveis e sua atitudes estúpidas. Nada mais além daquele comportamento hediondo. Na terceira noite de minha vigília fui surpreendido. Uma fêmea orc aproximava-se da toca orc, se arrastando e gemendo. Percebi o volume em sua barriga e vi que ela carregava vida em seu ventre. O orc macho saiu da sua toca como se tivesse farejado um cheiro que repudiava com todas as forças: grunhindo e brandindo sua espada, em busca do intruso que invadia suas terras. Então ele percebeu a fêmea. Ele não pensou duas vezes. Ergueu a fêmea e a levou para dentro com um gesto rápido. Não ousei me aproximar mais, mas fiquei espantado com tal atitude. Esperei até o amanhecer.

Logo ao amanhecer, ouvi os orcs de dentro da casa berrando como animais. A fêmea deve ter morrido pensei. De repente, de dentro da toca, o corpo ensanguentado da fêmea sai voando e se espatifa no chão. Nas mãos do orc, uma bebê orc. O orc que parecia ser o chefe pulava com o pequeno no colo, como outros orcs a sua volta. Talvez seus filhos. Eram 9 no total. Eles gritavam Barak Uldur, a plenos pulmões.

Decidi chamá-lo, para efeito de registro, com a expressão que os orcs gritavam: Barak Uldur. Me surpreendeu o fato de um orc estar celebrando a vida e tratando seu filho com uma espécie de carinho, ainda que fosse um tanto brutal. Confesso que de certo modo, senti afeto pela pobre criança. Algo como o afeto que temos pelo filhote de um cão que encontramos vagando pelas ruas.

Um mês depois, fui surpreendido. Enquanto fazia a minha observação já durante a noite, a criança foi, de repente, jogada pela entrada da toca, batendo com força na árvore onde eu estava. Em seguida, seus irmãos saíram da toca e o atingiram. Diversas vezes. Socos e chutes. Finalmente, o famigerado pai saiu de dentro da toca, retirando um a um os orcs que espacavam Barak. Me surpreendi, pois não esperava que ele tentasse manter a ordem. Não um orc. Ele se aproximou da criança. Fiquei alguns instantes ali parado, olhando para baixo, para aquele montículo de ser vivo, enroscado nas raízes nodosas daquela grande árvore. Ele então sorriu e golpeou com um chute poderoso a criança. A criança berrou e com um último suspiro, pareceu desmaiar. O orc pai pareceu dizer alguma coisa com as mãos erguidas para o céu. Com o meu parco conhecimento da língua orc, percebi que ele falava algo sobre "real valor" e "prova de resistência". Ele se virou e voltou para dentro da toca.

Fiquei furioso. Para a criança provar seu valor ela deveria sobreviver a fúria dos seus próprios familiares. Por um momento, me enchi de nojo das criaturas que acompanhava, já fazia algum tempo. Seres desprezíveis e hediondos. Então, olhei para baixo e vi a pobre criança orc caída. Vendo seus ferimentos, desci. Foi então que cometi o erro que Barak Uldur talvez jamais me perdoe.

Vendo seu estado lamentável, apliquei-lhe um feitiço de cura profunda. Acabei por eixar o feitiço de invisibilidade cair, revelando a minha identidade. Consegui restituir boa parte de sua vitalidade, o suficiente para recuperar-se sozinho. Foi então que percebi que a criança me olhava fixamente espantado com a minha atitude, ou com medo, por ser tão diferente dele mesmo. Me levantei, e fui me afastando com cautela. Não imaginava qual seria sua reação. Então, ele balbuciou: Anouk. Dei as costas para ele e disparei em direção a guilda. Nunca mais fui observá-lo.

Mais tarde, descobri que Anouk signifca o nome do ser que os leva para morte. Não sei como a criança sabia disso. Ontem acabei emboscado por uma dezena de orcs. Estávamos eu e um elfo negro andando pelo mundo quando fomos encurralados. Fomos atacados ferozmente. Fui derrubado por um golpe que me atingiu pelas costas. Caí, e ao me virar, um orc grande erguia sua lâmina no ar. Ele gritou e antes de finalizar o golpe parou. Olhou para o meu rosto e falou: Anouk. Ficamos paralisados nos olhando, por poucos segundos. Ele então se voltou contra os próprios irmãos, matando pelo menos 3 deles. Aliados, eu, o elfo negro e o orc não éramos páreo para os outros orcs. Dois orcs, ainda fugiram. O elfo negro não acreditava e não entendia o que tinha acontecido. Ofegante, o olhei e falei: Barak Uldur. Ele me olhou e, por um breve momento, pude ver um sorriso de felicidade no seu rosto. Ele ergueu sua arma e berrou. Depois, saiu correndo.

Às vezes, durante à noite, fico imaginando se ele não irá aparecer. Com uma faca na minha garganta por ter desgraçado sua vida e se tornado um poscrito ao me defender, ou como um velho amigo. Um dia descobrirei, da pior ou da melhor maneira possível.

Goliath Whalietric, O Ressurgido

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

AKHLOT - A História de Finli

Era um dia muito frio nas montanhas de Akhlot.
Na sua grande maioria, todos os dias eram assim. Mas no verão, as flores tomavam as colinas que se tornavam uma espécie de mosaico colorido de padrão incerto, mas de uma beleza ímpar para aqueles que habitavam Akhlot.
O trabalho era duro mesmo nos dias frios. Era necessário sempre sair em busca de carne, pois o apetite dos moradores de Akhlot não era dos menores. E era Finli o caçador escolhido daquela dia.
Em seu auxílio, seu primo Bhandir saiu com ele em busca da carne de javali branco, a mais saborosa, e que Finli jurou aos seus entes queridos conseguir.
– Bah! Maldito seja você e sua família, Finli, filho de Manthir!
– Você é sangue do meu sangue, Bhandir, filho de Ursal. Porque me afronta desta maneira? – respondeu Finli com um riso sarcástico estampado no seu rosto.
– Zombeteiro de uma figa! Me tirar do lado de minha querida Ulin para buscar carne.
– Você se ofereceu primo, lembra? – retrucou Finli.
– Você sabe porque me ofereci. Eu lhe devo.
– Então porque ainda estamos discutindo?
Bhandir parou então de resmungar e, no instante seguinte, não bastasse a neve que se abatia sobre Ahklot, um forte vento começou a açoitá-los.
– Brunhilda, A Senhora Gelada, decidiu soprar logo agora... Somos azarados, primo! – gritou Bhandir.
Finli então parou e ergueu os olhos tentando enxergar os mais longe que podia. O vento cortava os olhos e o rosto, mas Finli estava decidido a desafiar o sopro da Senhora Gelada.
– Pois saiba primo, que eu não concordo com o que me diz. Eu acho que seu sopro é um desafio. Um chamado. Uma tentativa de chamar a atenção daqueles que a veneram com fervor. Acho que ela quer que a encontremos. Acho que ela quer que seus filhos vão de encontro ao Norte, ter para com as pessoas altas. Ensinar e aprender com elas.
– Devaneios! Bah, eu adeio seus devaneios primo! Do jeito que gritamos para Brunhilda os javalis já devem ter fugido! – disse Bhandir dando as costas para Finli.
– Eu já tenho tudo planejado primo! Em menos de um mês você saberá tudo! – disse Finli enigmático.
Bhandir sabia o que seu primo queria dizer. E, no fundo, homens de Akhlot, ou de qualquer lugar, da espécie deles, não tentaria abraçar o primo mais velho que muito lhe ensinou. Não tentaria evitar que partisse, por mais que lhe doesse o coração. Pois mesmo com todo este sentimento, Bhandir sempre soube que Finli se aventuraria fora dos domínios de Ahklot. E agora, isso estava tão perto, que a dor e a raiva que lhe permeavam a alma e o corpo eram grandes demais para serem revelados.
FIM DA PARTE 1