Uma das coisas que mais me afastou das histórias em quadrinhos de linha, mensais, foram as histórias ridiculamente pobres e infantis. Em geral, são enredos enfadonhos que banalizam a ideia do herói da forma como foi criada. Além disso, os roteiros não passam de ideias fracas que servem apenas para encher os quadrinhos com os um monte de supers de segunda categoria que acabaram sendo criados no rastro dos grandes heróis.
Pois bem, uma das coisas que geralmente acompanho na WWWeb são fãs que criam histórias muito bem arquitetadas baseadas nos ícones heróicos que conhecemos: Batman, Superman, Hulk, Homem-Aranha, para citar alguns dos que mais admiro.
Recentemente, tive acesso a essa ideia muito bem bolada de um cara chamado themanbatman: The Batman Complex
Caras, que grande ideia. Sério, se um filme desse tipo fosse feito seria fantástico. Não nos importamos em ver o Batman sendo uma alucinação de Bruce Wayne. o que importa é o respeito ao ícone e a história. Ah, uma BOA história. Espero sinceramente que as indústrias de quadrinhos (Marvel e DC, para falar só das maiores) acordem rapidamente, pois se continuarem assim estarão enterrando suas próprias criações.
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quarta-feira, 27 de abril de 2011
quarta-feira, 21 de maio de 2008
quarta-feira, 25 de outubro de 2006
Uma história de super-herói(?)
Estava cansado. Tinha chegado a pouco da minha ronda e precisava dormir. Mas, eu não conseguia. As imagens dos últimos acontecimentos ainda não saíam da minha cabeça. Um dia após o outro eu via diversos seres passando ao alcance do meu toque. Um toque capaz de muitas coisas. Um toque que eu não era capaz de sentir. Mesmo assim, a vida que eu vivia agora era sempre correndo. Ou fugindo, ou perseguindo alguém, ou alguma coisa. Nunca foi o que desejei para mim. Enquanto eu caminhava e divagava, olhava para as minhas luvas, aquelas que tinham sido o maior acontecimento da minha vida. Se eram o melhor ou o pior, eu ainda não tinha certeza.
- Redentor! - Olhei em volta, após ouvir uma voz familiar chamar por mim.
- Aqui em cima. Estou sem sono. Quer conversar? - Disse o meu mais recente amigo, Escudo.
Olhei para cima e o vi flutuando um pouco acima da beirada do prédio, como ele sempre faz. Enquanto eu subia as escadas até o terraço eu lembrava que, às vezes, eu tinha inveja dessa capacidade que ele tinha. Ele podia voar quando quisesse. Eu, só quando as luvas queriam. Eu sei, eu estava aprendendo, mas nunca pude voar pelo simples prazer de voar. As luvas tinham um propósito. Eu deveria servir à elas, e não elas me servirem. Entretanto, as técnicas de meditação estavam ajudando e, com muito esforço, eu já conseguia flutuar como ele, como se as luvas dissessem "Está bem, eu vou ajudar você, mas só um pouquinho".
- Bela vista, não? - disse Escudo, ao me ver chegar.
Me aproximei da beirada para me certificar. Era uma noite clara. A lua estava alta e grande no céu, enquanto um halo de luminosidade parecia protegê-la como um campo de força. A neve que refletia a luz do luar deixava uma brilho fracamente azulado ao redor da paisagem. As folhas nas árvores se mexiam levemente sob a brisa gelada que vinha do norte. E a sombra da montanha atrás da Escola, a qual sempre parecia um gigante tentando engoli-la, era bem menos ameaçadora.
- Seu turno da vigia? - perguntei.
- Não. Decidi deixar o garoto dormir. Eu estava sem sono e ele praticamente dormindo em pé. Já pensou no Bricker caindo de cara no telhado após desmaiar de sono?
- Podíamos pousar o avião diretamente no hangar, sem abrir a porta... - falei com um sorriso amarelo.
- Continua tentando decifrar o seu fardo? Não me parece muito feliz... - retrucou Escudo.
Baixei a cabeça e olhei para as luvas sem dizer nada.
- Talvez eu entenda mais do que você pensa... - disse Escudo, sem que eu dissesse sequer uma palavra.
- Redentor, será que você já se perguntou se realmente deveríamos estar aqui? Será que deveria realmente existir um Escudo, ou um Bricker, ou até o Redentor? Eu não duvido dos propósitos divinos, mas veja o que acontece ao nosso redor: somos perseguidos e caçados e eu posso lhe dar uma dúzia de causas diferentes para que isso tudo ocorra. Mas, será que nossos inimigos não estão certos?
- Só porque somos diferentes? O que está dizendo, enlouqueceu? - respondi com certa fúria em minha voz.
- Não, e eu tão pouco concordo com isso. Veja, se somos superiores física e metalmente aos demais, e impedimos que coisas ruins aconteçam, nós estamos realmente fazendo o que é certo? Veja suas luvas, por exemplo, elas lhe deram o poder, ainda que quando elas querem, de ser o juiz, o júri e o algoz de toda uma espécie de seres que julgamos serem maus... Eles atacam e matam humanos, mas será que não é isso mesmo que deve acontecer?
- Você não pode estar falando sério... - respondi, assustado.
- Outro exemplo: Bricker. Ele é um garoto e provavelmente, um dos seres mais poderosos que já habitaram a Terra. Já imaginou quando ele for mais velho e estiver no seu auge? Já parou pensar que talvez toda aquela história de me prenderem foi para que eu não atrapalha-se o real motivo da existência do Bricker? Será que não é ele que está sendo perseguido para criar uma nova raça de super-seres? Já imaginou mulheres inseminadas com o sêmen do garoto, e o que teríamos?
- Beterrabas tamanho GG? - respondi ironicamente.
Escudo me olhou sério. Durante 3 segundos.
- Ele é roxo! O que esperava... - complementei.
- O grande problema é que a maioria das pessoas, humanos, pensa como eu estou lhe dizendo. Nós, metahumanos, somos vistos como uma ameaça a sociedade humana comum e, pelo menos em parte, eles têm razão. Muitos de nós trocam socos primeiro e perguntam depois. Não deveria haver a diferenciação. Devíamos tentar resolver nosso problemas e diferenças juntos e não tentar nos defender uns dos outros... Às vezes, penso que se o Escudo não existisse, tudo seria melhor. Talvez, nós só estejamos matando a borboleta antes dela sair do casulo... Impedindo que algo melhor venha a surgir.
Olhei o Escudo com muita atenção e surpresa. Debaixo daquela aura azul de pura energia e de toda aquela serenidade e formalidade, havia um ser humano.
- Sabe de uma coisa: por tudo isso que você é, você é o meu metahumano favorito. Cara, você é simplesmente um super-herói. Só os verdadeiros super-heróis se preocupam com isso. Com o certo e o errado. E você está lutando para não perder isso. Eu ainda tenho muito que aprender com você...
- Obrigado. Você é um grande amigo. E preciso aprender a rir disso tudo de vez em quando. - diz Escudo.
- Já pensou em como seria estar num gibi? Nós íamos ganhar muito dinheiro. - disse eu, zombando.
- Como seria?
- Redentor e Escudo, contra o mal.
- Quem sabe Escudo e Redentor?
- Os mutunas! Que tal?
- Nossa, você é péssimo nisso... Vamos descer. Tem uma pizza no freezer. Eu vou esquentar com as mãos.
- Podia deixar de ser tão exibido...
Enquanto ríamos das bobagens que dizíamos, eu notei que eu não estava só. E que pelo menos, eu não tinha perdido aquilo que realmente importava: minha humanidade.
- Redentor! - Olhei em volta, após ouvir uma voz familiar chamar por mim.
- Aqui em cima. Estou sem sono. Quer conversar? - Disse o meu mais recente amigo, Escudo.
Olhei para cima e o vi flutuando um pouco acima da beirada do prédio, como ele sempre faz. Enquanto eu subia as escadas até o terraço eu lembrava que, às vezes, eu tinha inveja dessa capacidade que ele tinha. Ele podia voar quando quisesse. Eu, só quando as luvas queriam. Eu sei, eu estava aprendendo, mas nunca pude voar pelo simples prazer de voar. As luvas tinham um propósito. Eu deveria servir à elas, e não elas me servirem. Entretanto, as técnicas de meditação estavam ajudando e, com muito esforço, eu já conseguia flutuar como ele, como se as luvas dissessem "Está bem, eu vou ajudar você, mas só um pouquinho".
- Bela vista, não? - disse Escudo, ao me ver chegar.
Me aproximei da beirada para me certificar. Era uma noite clara. A lua estava alta e grande no céu, enquanto um halo de luminosidade parecia protegê-la como um campo de força. A neve que refletia a luz do luar deixava uma brilho fracamente azulado ao redor da paisagem. As folhas nas árvores se mexiam levemente sob a brisa gelada que vinha do norte. E a sombra da montanha atrás da Escola, a qual sempre parecia um gigante tentando engoli-la, era bem menos ameaçadora.
- Seu turno da vigia? - perguntei.
- Não. Decidi deixar o garoto dormir. Eu estava sem sono e ele praticamente dormindo em pé. Já pensou no Bricker caindo de cara no telhado após desmaiar de sono?
- Podíamos pousar o avião diretamente no hangar, sem abrir a porta... - falei com um sorriso amarelo.
- Continua tentando decifrar o seu fardo? Não me parece muito feliz... - retrucou Escudo.
Baixei a cabeça e olhei para as luvas sem dizer nada.
- Talvez eu entenda mais do que você pensa... - disse Escudo, sem que eu dissesse sequer uma palavra.
- Redentor, será que você já se perguntou se realmente deveríamos estar aqui? Será que deveria realmente existir um Escudo, ou um Bricker, ou até o Redentor? Eu não duvido dos propósitos divinos, mas veja o que acontece ao nosso redor: somos perseguidos e caçados e eu posso lhe dar uma dúzia de causas diferentes para que isso tudo ocorra. Mas, será que nossos inimigos não estão certos?
- Só porque somos diferentes? O que está dizendo, enlouqueceu? - respondi com certa fúria em minha voz.
- Não, e eu tão pouco concordo com isso. Veja, se somos superiores física e metalmente aos demais, e impedimos que coisas ruins aconteçam, nós estamos realmente fazendo o que é certo? Veja suas luvas, por exemplo, elas lhe deram o poder, ainda que quando elas querem, de ser o juiz, o júri e o algoz de toda uma espécie de seres que julgamos serem maus... Eles atacam e matam humanos, mas será que não é isso mesmo que deve acontecer?
- Você não pode estar falando sério... - respondi, assustado.
- Outro exemplo: Bricker. Ele é um garoto e provavelmente, um dos seres mais poderosos que já habitaram a Terra. Já imaginou quando ele for mais velho e estiver no seu auge? Já parou pensar que talvez toda aquela história de me prenderem foi para que eu não atrapalha-se o real motivo da existência do Bricker? Será que não é ele que está sendo perseguido para criar uma nova raça de super-seres? Já imaginou mulheres inseminadas com o sêmen do garoto, e o que teríamos?
- Beterrabas tamanho GG? - respondi ironicamente.
Escudo me olhou sério. Durante 3 segundos.
- Ele é roxo! O que esperava... - complementei.
- O grande problema é que a maioria das pessoas, humanos, pensa como eu estou lhe dizendo. Nós, metahumanos, somos vistos como uma ameaça a sociedade humana comum e, pelo menos em parte, eles têm razão. Muitos de nós trocam socos primeiro e perguntam depois. Não deveria haver a diferenciação. Devíamos tentar resolver nosso problemas e diferenças juntos e não tentar nos defender uns dos outros... Às vezes, penso que se o Escudo não existisse, tudo seria melhor. Talvez, nós só estejamos matando a borboleta antes dela sair do casulo... Impedindo que algo melhor venha a surgir.
Olhei o Escudo com muita atenção e surpresa. Debaixo daquela aura azul de pura energia e de toda aquela serenidade e formalidade, havia um ser humano.
- Sabe de uma coisa: por tudo isso que você é, você é o meu metahumano favorito. Cara, você é simplesmente um super-herói. Só os verdadeiros super-heróis se preocupam com isso. Com o certo e o errado. E você está lutando para não perder isso. Eu ainda tenho muito que aprender com você...
- Obrigado. Você é um grande amigo. E preciso aprender a rir disso tudo de vez em quando. - diz Escudo.
- Já pensou em como seria estar num gibi? Nós íamos ganhar muito dinheiro. - disse eu, zombando.
- Como seria?
- Redentor e Escudo, contra o mal.
- Quem sabe Escudo e Redentor?
- Os mutunas! Que tal?
- Nossa, você é péssimo nisso... Vamos descer. Tem uma pizza no freezer. Eu vou esquentar com as mãos.
- Podia deixar de ser tão exibido...
Enquanto ríamos das bobagens que dizíamos, eu notei que eu não estava só. E que pelo menos, eu não tinha perdido aquilo que realmente importava: minha humanidade.
quinta-feira, 13 de julho de 2006
Destino - 2ª parte
Cheguei na entrada da garagem. A chuva era forte e atrapalhava até a visão. A entrada da garagem era uma porta de correr bem grande e pesada. Não seria muito fácil entrar ali. Decidi fazer dar uma volta em torno da construção para ver se conseguia descobrir outra entrada.
Acabei encontrando uma clarabóia. Dava para uma pessoa passar ali. Só tinha que abri-la. Eu sabia que como um bom policial não era certo o que eu estava fazendo. Isto era invasão de privacidade e agora, era também um vidro de janela quebrado. Apoiei o casaco na janela e empurrei a clarabóia na esperança de que eu conseguisse fazer com que ela abrisse. O resultado foi péssimo e eu quase me cortei. Além do mais, a minha esperteza devia ter alertado quem quer estivesse ali dentro.
Passei pela clarabóia e pisei no chão, em um monte de cacos de vidro, anunciando minha chegada. Molhado e cansado, cheguei a pensar em desistir. Afinal, o máximo que conseguiria seria uma pela suspensão, já que eu seguia os malditos conselhos daquele velho maluco e invadia uma casa. Contudo, já que eu estava ali mesmo, era melhor dar uma olhada. Enquanto me recriminava em pensamento e pensava na grande estupidez que estava fazendo, tentava encontrar a lanterna no meu casaco.
Finalmente, acendi a pequena lanterna a tempo o suficiente para gritar com o que os meu olhos viam. Uma criatura imensa se esgueirava em uma parede onde vários corpos humanos ficavam pendurados. Seu vício ou sua fome parecia ser tão grande, que ela sequer temia pela minha entrada no seu covil. O meu grito acabou alertando o meu algoz que enfim se voltava para mim com olhos esbugalhados e injetados de sangue. Ele veio em minha direção e, apesar do seu tamanho, muito mais rápida do que esperava. A lanterna acabou caindo no chão, mas continuou iluminando na direção do monstro. Instintivamente rolei no chão para minha esquerda, achando que ficando longe dos seus braços longos teria mais chance de reagir.
Ledo engano.
Um outro braço ou pata sai de um lugar errado, pelo menos para mim, acostumado a anatomia humana. A pata do animal agarrou a minha perna enquanto eu procurava desesperadamente a minha arma no meu casaco. A criatura continuou vindo por cima do meu corpo. Eu agora sentia uma cheiro nauseabundo de carne podre que enchia as minhas narinas. Ao invés de vomitar, o cheiro me entorpecia, me calava a boca e derrubava as minhas forças. Era como se a mão da morte chegasse, com toda crueldade do seu mais sincero arauto.
Então, quando achava que era o meu derradeiro suspiro, encontrei alguma coisa no meu casaco. Um pacote. Não era a arma que tanto precisava. Era uma pacote com luvas. Desesperado, minha mão foi se enfiando no pacote e, inesperadamente, a criatura urrou. Um grito inumano, mas claramente de dor. Ela pulou para longe e, agora, parecia menor. Eu olhei para a minha mão e senti que agora eu vestia uma das luvas. Olhei para o monstro e vi que ele tinha sido queimado... pela minha mão! A mão que usava a luva. Sem pensar, procurei desesperado pela outra luva enquanto o demônio se contorcia de dor. Vesti a outra luva e então, uma mudança subitamente aconteceu. Eu senti como se minhas mãos queimassem. Eu parecia possuir o calor do próprio Sol dentro de mim. Após este momento estranho, abri os olhos e olhei para minhas mãos. No lugar das luvas, eu agora possuía manoplas de metal. Elas brilhavam, como se estivessem vivas. Um brilho dourado, pulsante.
Fui até o animal que, a partir do momento que viu as manoplas, parecia reconhecer no meu ser o seu pior pesadelo. Me aproximei mais, e ao ver aquela enorme criatura amedrontada, confesso que me senti quase enebriado pelo poder que eu agora possuía. Até que, perplexo, olhei para o rosto do monstro e o que vi me deixou ainda mais chocado. A criatura era um ser humano. Deformado, mal tratado e transformado por algum tipo de arte maléfica que fugiu a minha capacidade de raciocínio.
Sem dizer sequer uma palavra eu entendia o que aquele ser queria. Ergui minhas mãos sobre sua cabeça e disse:
– Sei que isso não é suficiente, mas é tudo que posso te dar. Que Deus o leve para perto dele... Que esta seja a sua redenção.
As palavras que eu disse eu não conhecia. Nunca fui religioso e posso dizer hoje que aquele que falara tal coisa naquela época certamente não era eu.
Minhas mãos finalmente tocaram a criatura e uma luz enorme se formou ao nosso redor. E então, ele sumiu. Sobrou muito pouco além de cinzas espalhadas pelo chão. Minhas manoplas tinham apagado seu brilho, e voltaram a ser apenas luvas. Tentei tirá-las, mas não consegui. Nunca poderei tirá-las.
Saí de lá confuso e fui para casa exausto. Olhei ao redor e a chuva havia parado. Estava claro que o velho tinha me dado uma missão. Uma missão maior do que qualquer coisa que eu havia sequer imaginado. Eu era algo diferente agora. Uma força inexplicável que caminhava sobre a Terra. Eu ainda sou algo que tento entender dia após dia e luto para manter minha sanidade com tamanha confusão que tem se tornado a minha mente. Sou um escolhido. Sou o Redentor.
Acabei encontrando uma clarabóia. Dava para uma pessoa passar ali. Só tinha que abri-la. Eu sabia que como um bom policial não era certo o que eu estava fazendo. Isto era invasão de privacidade e agora, era também um vidro de janela quebrado. Apoiei o casaco na janela e empurrei a clarabóia na esperança de que eu conseguisse fazer com que ela abrisse. O resultado foi péssimo e eu quase me cortei. Além do mais, a minha esperteza devia ter alertado quem quer estivesse ali dentro.
Passei pela clarabóia e pisei no chão, em um monte de cacos de vidro, anunciando minha chegada. Molhado e cansado, cheguei a pensar em desistir. Afinal, o máximo que conseguiria seria uma pela suspensão, já que eu seguia os malditos conselhos daquele velho maluco e invadia uma casa. Contudo, já que eu estava ali mesmo, era melhor dar uma olhada. Enquanto me recriminava em pensamento e pensava na grande estupidez que estava fazendo, tentava encontrar a lanterna no meu casaco.
Finalmente, acendi a pequena lanterna a tempo o suficiente para gritar com o que os meu olhos viam. Uma criatura imensa se esgueirava em uma parede onde vários corpos humanos ficavam pendurados. Seu vício ou sua fome parecia ser tão grande, que ela sequer temia pela minha entrada no seu covil. O meu grito acabou alertando o meu algoz que enfim se voltava para mim com olhos esbugalhados e injetados de sangue. Ele veio em minha direção e, apesar do seu tamanho, muito mais rápida do que esperava. A lanterna acabou caindo no chão, mas continuou iluminando na direção do monstro. Instintivamente rolei no chão para minha esquerda, achando que ficando longe dos seus braços longos teria mais chance de reagir.
Ledo engano.
Um outro braço ou pata sai de um lugar errado, pelo menos para mim, acostumado a anatomia humana. A pata do animal agarrou a minha perna enquanto eu procurava desesperadamente a minha arma no meu casaco. A criatura continuou vindo por cima do meu corpo. Eu agora sentia uma cheiro nauseabundo de carne podre que enchia as minhas narinas. Ao invés de vomitar, o cheiro me entorpecia, me calava a boca e derrubava as minhas forças. Era como se a mão da morte chegasse, com toda crueldade do seu mais sincero arauto.
Então, quando achava que era o meu derradeiro suspiro, encontrei alguma coisa no meu casaco. Um pacote. Não era a arma que tanto precisava. Era uma pacote com luvas. Desesperado, minha mão foi se enfiando no pacote e, inesperadamente, a criatura urrou. Um grito inumano, mas claramente de dor. Ela pulou para longe e, agora, parecia menor. Eu olhei para a minha mão e senti que agora eu vestia uma das luvas. Olhei para o monstro e vi que ele tinha sido queimado... pela minha mão! A mão que usava a luva. Sem pensar, procurei desesperado pela outra luva enquanto o demônio se contorcia de dor. Vesti a outra luva e então, uma mudança subitamente aconteceu. Eu senti como se minhas mãos queimassem. Eu parecia possuir o calor do próprio Sol dentro de mim. Após este momento estranho, abri os olhos e olhei para minhas mãos. No lugar das luvas, eu agora possuía manoplas de metal. Elas brilhavam, como se estivessem vivas. Um brilho dourado, pulsante.
Fui até o animal que, a partir do momento que viu as manoplas, parecia reconhecer no meu ser o seu pior pesadelo. Me aproximei mais, e ao ver aquela enorme criatura amedrontada, confesso que me senti quase enebriado pelo poder que eu agora possuía. Até que, perplexo, olhei para o rosto do monstro e o que vi me deixou ainda mais chocado. A criatura era um ser humano. Deformado, mal tratado e transformado por algum tipo de arte maléfica que fugiu a minha capacidade de raciocínio.
Sem dizer sequer uma palavra eu entendia o que aquele ser queria. Ergui minhas mãos sobre sua cabeça e disse:
– Sei que isso não é suficiente, mas é tudo que posso te dar. Que Deus o leve para perto dele... Que esta seja a sua redenção.
As palavras que eu disse eu não conhecia. Nunca fui religioso e posso dizer hoje que aquele que falara tal coisa naquela época certamente não era eu.
Minhas mãos finalmente tocaram a criatura e uma luz enorme se formou ao nosso redor. E então, ele sumiu. Sobrou muito pouco além de cinzas espalhadas pelo chão. Minhas manoplas tinham apagado seu brilho, e voltaram a ser apenas luvas. Tentei tirá-las, mas não consegui. Nunca poderei tirá-las.
Saí de lá confuso e fui para casa exausto. Olhei ao redor e a chuva havia parado. Estava claro que o velho tinha me dado uma missão. Uma missão maior do que qualquer coisa que eu havia sequer imaginado. Eu era algo diferente agora. Uma força inexplicável que caminhava sobre a Terra. Eu ainda sou algo que tento entender dia após dia e luto para manter minha sanidade com tamanha confusão que tem se tornado a minha mente. Sou um escolhido. Sou o Redentor.
quinta-feira, 29 de junho de 2006
Destino - Parte 1 -
– Obrigado – eu disse.
Ela trouxe o café e as torradas ainda quentes.
“Ainda bem”, pensei comigo, enquanto tirava as luvas para comer. Mas eu não conseguia ficar a vontade. A lancheira ficava perto demais do departamento da polícia técnica. Mais precisamente, de frente para o departamento do médico legista. Eu odiava aquele lugar. Era frio e úmido. Pouco hospitaleiro. Contudo, eu precisava estar ali. Era o meu dever. Por mais que quisesse largar tudo.
Paguei a conta e fui até a rua. Ainda não entendia exatamente como as coisas tinhas acontecido. Eu olhava para o alto, para lados, como se procurasse uma resposta. Ele não podia ter feito o que queria sozinho. Ele não conseguiria. É humanamente impossível.
Fui até o carro e procurei a pasta da investigação. Olhei novamente as fotos da cena do crime. Não havia sobrado muito da moça, mas pelo menos, os pedaços ainda estavam perto. E eu que pensei que de barriga cheia conseguiria olhar essas fotos de novo. Eu olhava e analisava e não conseguia imaginar como alguém sozinho teria feito aquilo. O corpo da moça estava completamente dilacerado.
O que me deixava mais intrigado é que não havia nenhum sinal de cortes, talhos, nada. Era como se tudo nela tivesse sido arrancado, sabe-se lá como. Era assustador.
Finalmente, o legista me bipava. Fui até ele para descobrir o que eu já sabia. Não havia nenhum sinal de corda ou cabos ou qualquer coisa parecida onde ela teve os membros e o resto do corpo arrancados. O mais estranho é que todas as partes do corpo que foram arrancadas não tinha nenhuma gota de sangue.
– Isto não deveria ser normal? Afinal, o sangue que tinha neles escorreu... Não?
– A coisa não funciona bem assim... – disse o médico – É claro que o sangue deveria sair, mas deveria haver resquícios dele. Não há sequer vestígio de que tenha havido sangue naqueles tecidos, está me entendendo? Isso, não é possível.
Fui embora com o relatório do médico embaixo do braço. Abri o carro e olhei para o meu distintivo colocado sobre o banco. “O que isso está fazendo aqui? Devia estar no meu bolso...” Liguei o carro e segui para casa.
Fui devagar e, depois de mais ou menos 1 km, vi um homem parado na no meio da rua pedindo ajuda. Encostei o carro, mas deixei o revólver no bolso.
– Ainda bem – disse ele – com essa chuva toda, achei que ninguém mais passaria por aqui.
Olhei o homem de cima a baixo. Era um senhor aparentando ter certa idade. Pelo menos uns 60 anos. Parecia bastante saudável.
– O que o senhor precisa?
– Apenas de uma carona, se for possível. – respondeu.
Decidi dar a carona. Ele entrou no carro e começamos a conversar sobre amenidades. O meu distintivo caiu do bolso e ele o juntou.
– Ora, estou muito bem acompanhado. Um policial. E investigador.
O cansaço e a minha visita ao legista já estragavam o meu humor a muito tempo naquele dia e a conversa do carona não me ajudava muito. Sorri amarelo enquanto pegava o distintivo e joguei no painel do carro.
– A quanto tempo você pensa em deixar de ser policial? – disse o velho.
Olhei um pouco surpreso para ele. Afinal, como ele podia saber daquilo? Respondi, a contragosto.
– Já faz algum tempo. Mas isso não importa – finalizei, tentando encerrar de vez a conversa.
– Eu tenho experiência e posso lhe dizer uma coisa: simplesmente não é possível tentar enganar o destino. Às vezes, não temos escolhas. Alguns poucos de nós, têm uma missão a cumprir e não importa que caminho escolher, você nunca vai se desvencilhar dele: o destino. Tanto que, se você começar a prestar mais atenção, você sempre fica com os casos mais difíceis, não é? Como o desta moça, por exemplo.
Fiquei olhando o velho e quase me desconcentrei do volante. Que história era essa? Do que ele estava falando, afinal? como ele sabia do caso que eu estava investigando?
– Bem, eu desço aqui – disse ele, antes que pudesse fazer qualquer pergunta.
Ele desceu do carro. Fez a volta e foi até a minha janela, já todo molhado pela chuva.
– A propósito... Eu espero que não tenha medo de demônios. Foi um tipo Mundif que fez isso na garota. Eles adoram sangue. Você vai encontrá-lo dentro daquela garagem. Ah, antes que eu me esqueça... Isso é para você. Me mandaram entregar.
Assustado com tudo que aquele louco me dizia, saquei a arma e enfiei no pescoço dele.
– Quem mandou você aqui e porque? – disse com raiva na voz.
Ele riu, e disse:
– Ora garoto, se eu quisesse matar você já teria feito isso, não acha? Pegue, é um presente... Confie no destino.
Ele jogou o pacote no meu colo. Olhei para o pacote agora nas minhas pernas. Quando voltei a olhar para o velho, ele já havia sumido.
Fiquei um tempo ali parado, um pouco zonzo com toda aquela conversa. Demônios? Que maluquice era aquela? Me lembrei então do pacote e decidi ver o que havia dentro. Era uma espécie de luvas muito antigas. Eram feitas de material esquisito, leve, mas que parecia ser bastante compacto. Tinham uma cor negra, quase como um carvão. Dentro do saco, uma carteira de identidade. Era do velho. O seu nome era Olaf Fergusson.
Tinha como encontrá-lo agora. Mas, a minha curiosidade se aguçou, muito mais pelo o que lel me disse. Eu tinha que ir até a garagem saber o que significava aquela história de Mundif. Botei meu casaco, guardei tudo, peguei a minha arma e fui até lá.
FIM DA PARTE 1
Ela trouxe o café e as torradas ainda quentes.
“Ainda bem”, pensei comigo, enquanto tirava as luvas para comer. Mas eu não conseguia ficar a vontade. A lancheira ficava perto demais do departamento da polícia técnica. Mais precisamente, de frente para o departamento do médico legista. Eu odiava aquele lugar. Era frio e úmido. Pouco hospitaleiro. Contudo, eu precisava estar ali. Era o meu dever. Por mais que quisesse largar tudo.
Paguei a conta e fui até a rua. Ainda não entendia exatamente como as coisas tinhas acontecido. Eu olhava para o alto, para lados, como se procurasse uma resposta. Ele não podia ter feito o que queria sozinho. Ele não conseguiria. É humanamente impossível.
Fui até o carro e procurei a pasta da investigação. Olhei novamente as fotos da cena do crime. Não havia sobrado muito da moça, mas pelo menos, os pedaços ainda estavam perto. E eu que pensei que de barriga cheia conseguiria olhar essas fotos de novo. Eu olhava e analisava e não conseguia imaginar como alguém sozinho teria feito aquilo. O corpo da moça estava completamente dilacerado.
O que me deixava mais intrigado é que não havia nenhum sinal de cortes, talhos, nada. Era como se tudo nela tivesse sido arrancado, sabe-se lá como. Era assustador.
Finalmente, o legista me bipava. Fui até ele para descobrir o que eu já sabia. Não havia nenhum sinal de corda ou cabos ou qualquer coisa parecida onde ela teve os membros e o resto do corpo arrancados. O mais estranho é que todas as partes do corpo que foram arrancadas não tinha nenhuma gota de sangue.
– Isto não deveria ser normal? Afinal, o sangue que tinha neles escorreu... Não?
– A coisa não funciona bem assim... – disse o médico – É claro que o sangue deveria sair, mas deveria haver resquícios dele. Não há sequer vestígio de que tenha havido sangue naqueles tecidos, está me entendendo? Isso, não é possível.
Fui embora com o relatório do médico embaixo do braço. Abri o carro e olhei para o meu distintivo colocado sobre o banco. “O que isso está fazendo aqui? Devia estar no meu bolso...” Liguei o carro e segui para casa.
Fui devagar e, depois de mais ou menos 1 km, vi um homem parado na no meio da rua pedindo ajuda. Encostei o carro, mas deixei o revólver no bolso.
– Ainda bem – disse ele – com essa chuva toda, achei que ninguém mais passaria por aqui.
Olhei o homem de cima a baixo. Era um senhor aparentando ter certa idade. Pelo menos uns 60 anos. Parecia bastante saudável.
– O que o senhor precisa?
– Apenas de uma carona, se for possível. – respondeu.
Decidi dar a carona. Ele entrou no carro e começamos a conversar sobre amenidades. O meu distintivo caiu do bolso e ele o juntou.
– Ora, estou muito bem acompanhado. Um policial. E investigador.
O cansaço e a minha visita ao legista já estragavam o meu humor a muito tempo naquele dia e a conversa do carona não me ajudava muito. Sorri amarelo enquanto pegava o distintivo e joguei no painel do carro.
– A quanto tempo você pensa em deixar de ser policial? – disse o velho.
Olhei um pouco surpreso para ele. Afinal, como ele podia saber daquilo? Respondi, a contragosto.
– Já faz algum tempo. Mas isso não importa – finalizei, tentando encerrar de vez a conversa.
– Eu tenho experiência e posso lhe dizer uma coisa: simplesmente não é possível tentar enganar o destino. Às vezes, não temos escolhas. Alguns poucos de nós, têm uma missão a cumprir e não importa que caminho escolher, você nunca vai se desvencilhar dele: o destino. Tanto que, se você começar a prestar mais atenção, você sempre fica com os casos mais difíceis, não é? Como o desta moça, por exemplo.
Fiquei olhando o velho e quase me desconcentrei do volante. Que história era essa? Do que ele estava falando, afinal? como ele sabia do caso que eu estava investigando?
– Bem, eu desço aqui – disse ele, antes que pudesse fazer qualquer pergunta.
Ele desceu do carro. Fez a volta e foi até a minha janela, já todo molhado pela chuva.
– A propósito... Eu espero que não tenha medo de demônios. Foi um tipo Mundif que fez isso na garota. Eles adoram sangue. Você vai encontrá-lo dentro daquela garagem. Ah, antes que eu me esqueça... Isso é para você. Me mandaram entregar.
Assustado com tudo que aquele louco me dizia, saquei a arma e enfiei no pescoço dele.
– Quem mandou você aqui e porque? – disse com raiva na voz.
Ele riu, e disse:
– Ora garoto, se eu quisesse matar você já teria feito isso, não acha? Pegue, é um presente... Confie no destino.
Ele jogou o pacote no meu colo. Olhei para o pacote agora nas minhas pernas. Quando voltei a olhar para o velho, ele já havia sumido.
Fiquei um tempo ali parado, um pouco zonzo com toda aquela conversa. Demônios? Que maluquice era aquela? Me lembrei então do pacote e decidi ver o que havia dentro. Era uma espécie de luvas muito antigas. Eram feitas de material esquisito, leve, mas que parecia ser bastante compacto. Tinham uma cor negra, quase como um carvão. Dentro do saco, uma carteira de identidade. Era do velho. O seu nome era Olaf Fergusson.
Tinha como encontrá-lo agora. Mas, a minha curiosidade se aguçou, muito mais pelo o que lel me disse. Eu tinha que ir até a garagem saber o que significava aquela história de Mundif. Botei meu casaco, guardei tudo, peguei a minha arma e fui até lá.
FIM DA PARTE 1
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