terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Futebol: paixão que enlouquece. E esse é o perigo.

   Eu não entendo muito as coisas que acontecem por aí. Eu não consigo entender tanta coisa que me sinto realmente fora da Terra. Sou o que se pode chamar de um alienígena.

   A última coisa que eu vi que eu certamente sei que não entendo mais é o futebol. Apesar de todos saberem a minha paixão clubística, ela certamente não vem ao caso neste momento.

   O que sempre foi importante no futebol aqui no RS é, que se um está por cima, o outro TEM  que estar por baixo. Sempre foi assim, sempre será. Entretanto, isto sempre foi e sempre será, pelo menos para mim, um esporte, um divertimento. Algo que sim, eu acho muito bacana, muito legal, mas que se infelizmente, amanhã me disserem que o futebol acabou e nunca mais será jogado, eu certamente ficaria chocado e triste. A vida seguiria, sem traumas, só com uma pontinha de saudade.

   É estranho dizer isso, mas eu tenho uma explicação muito clara a respeito deste meu sentimento. Eu vivi o final de uma era no futebol em que meu pai me levava ao estádio. Torcíamos, xingávamos, mas sabíamos que ao sair dali qualquer pessoa com a camisa do outro clube era uma pessoa, que merecia o nosso respeito e que gostaríamos de receber o mesmo tratamento dela. Existiam as flautas, as brincadeiras, as provocações, mas era isso e não passava disso. Eu achava muito bom ir estádio torcer, gritar na frente da TV com os jogadores (coisa que ainda faço...). Hoje nem tanto.

   O tempo passou eu fui para a faculdade e lá eu conheci muitos amigos e adversários no futebol. A gente brincava com o futebol, tocava flauta e como sempre fiz, eu aceitava a brincadeira. A luz de alerta acendeu para mim, quando num belo dia eu iniciei a brincadeira e este amigo enlouqueceu. Por causa de uma brincadeira com futebol, ele queria brigar a soco e foi contido por outros colegas. Este mesmo amigo, semanas depois veio mexer comigo, sobre futebol. Empurrei o mesmo contra a parede e perguntei se ele era homem só quando o time dele ganhava. Se quando a brincadeira vinha dele eu tinha que ficar quieto. Falei pra ele que se ele viesse falar sobre futebol comigo mais uma vez, essa seria a última.

   Aquilo ficou ecoando na minha cabeça por muitos anos. Primeiro, como ele foi capaz daquilo. Segundo, como eu fui capaz daquilo! No fundo, eu sentia que eu não queria brigar por time nenhum mas sim pela falta de respeito. Afinal, porque a brincadeira vale para um lado e não para outro? Porque ele tinha o direito de querer brigar por causa de um time de futebol? E porque eu teria esse direito?

   Último Gre-Nal no Olímpico. As torcidas são conduzidas pelas ruas de Porto Alegre pela brigada militar, em bretes de policiais, para evitar desavenças. Existe uma verdadeira guerra velada entre todos. Começa o jogo e a catimba e desavenças entre jogadores estimulam ainda mais a torcida a criar um clima belicoso. Não acho que o jogador não deva "chegar junto". Faz parte do jogo jogar duro e até fazer falta. A regra existe para punir os excessos. Aí vejo treinador invadir campo, chutar a bola pra longe, meter a mão em jogador e tudo isso, na minha modesta opinião, nada tem a ver com jogo. Além disso, vejo torcedor jogo rojão tanto na torcida quanto nos jogadores do time adversário, isso sem falar na quebradeira generalizada de banheiros, que já ocorreram em ambos estádios.

   Aí eu me pergunto: tudo isso tem que tipo de relação com o futebol que eu assistia ao lado do meu pai? Que tipo de envolvimento eu ainda tenho ou quero ter quando eu vejo pessoas vestidas de Grêmio ou Inter, como se fossem soldados, prontos para "dar o sangue" pelo seu time? O mesmo time que na noite seguinte faz churrascos ou festinhas entre os jogadores de ambas equipes rindo à toa das criancices feitas no gramado atrás de uma bola, uma vez que são infinitamente melhor remunerados  que muito professor, pesquisador, médico, enfermeiro? Claro, eles tem todo o direito de ganhar o quanto os nossos valorosos clubes se permitem gastar... Agora, será que essa briga de "exércitos da bola" serve para alguma coisa? Onde está o divertimento? Na briga ou no futebol? Em poder vociferar pelo facebook que o meu estádio é melhor que o teu? De que adianta toda essa energia gasta no futebol, quando a mesma podia estar sendo direcionada para lutas tão ou mais graves quanto um reforma política e social, uma distribuição de renda mais igualitária, uma educação melhor para todos? será que isso só acontece quando botamos cores de um lado ou de outro? Ou será que tudo se resume só no comportamento primitivo de tribos dos tempos das cavernas, onde o mais forte é quem tira mais sangue do outro?

   Inauguração da Arena do Grêmio. Cheio de problemas visíveis que a imprensa, na sua grande maioria, ignora. Aí vejo colorados nas redes sociais gozando a arena... E o que vai acontecer quando o Gre-Nal for lá? Os colorados vão quebrar tudo? E o contrário, quando gremistas estiverem no reformado Beira-Rio?

   Por essas e por outras, que ultimamente prefiro assistir NFL. Tem seus problemas, claro, mas pelo menos vejo torcedores com as cores dos times adversários um ao lado do outro, bebendo cerveja, sem brigas, torcendo. Mesmo na NBA, que volta e meia tem confusão entre jogadores, os torcedores estão lá, se divertindo, mesmo sendo adversários. Lá também temos confusões entre torcedores, assim como na Europa. Só que é menos. Muito menos.

   Porque não podemos mais simplesmente curtir o futebol, sem se preocupar se o filho de alguém pode ou não sair com a camiseta de um time na rua, sob pena de não voltar nunca mais para casa?

   Futebol para mim, cada vez mais, é só no PS3. E olhe lá.