quinta-feira, 3 de abril de 2008

Do pó ao pó

O ambiente obscuro e sinistro dessa casa me trazia lembranças. Memórias de um tempo a muito tempo esquecido. Uma pequena fração de mim se perde em devaneios, ficando esquecida junto ao pó das minhas recordações. Eu me deixo perder, calmo, tranqüilo. Enfim...
- Droga! Porra! Seu pedaço de merda! Acorda! Vai! ACORDA.

- O sangue não é forte o suficiente, Dorotya. Ele já era.

- Maldito! Maldito seja você!

Eu sinto ela chutar meu corpo. Eu estou no presente agora. Mas meu presente é somente o meu fim. Minha única chance talvez seja o começo. Sim... Eu lembro.

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- Lesalle! Menino bobo... Lesalle! Ele vai ver só...

Eu fico olhando Lily a empregada nos procurando. Damos risinhos baixos e fazemos “ssshhh” com o dedo em riste perpendicular a boca um para o outro. Eu e Mark adorávamos fazer isso o dia todo com Lily. O interessante é que Lily não era muito mais velha do que eu e Mark. Mas éramos muito novos ainda. Nessa época, era só brincar o tempo todo.

A casa enorme dos pais de Mark era em um estilo vitoriano clássico, escura, sombria. Seu número infindável de cômodos era uma terra que constantemente era explorada por nós. Vivíamos fantasiando sobre savanas, faroeste, lutas em dunas desérticas e, claro, brincávamos de esconder com Lily. A eletricidade e o uso de lâmpadas dentro da casa era uma extravagância para qualquer um naquela época. Algo realmente digno do status que a família Hagen ostentava. Eram as pessoas mais ricas, milionárias, que viviam em Paris. E meus pais adoravam que eu passasse a maior parte do tempo junto a eles, na casa de Mark. Não porque eu tinha um amigo. Mas porque eles eram ricos. Nessa época eu sequer imaginava o que o pai de Mark fazia. Tudo que me importava era me esconder de Lily.

- Vai Adi! Pra biblioteca, vai corre!

- Que que você vai fazer Mark?

- Vou gritar bem alto!

- Quê?

Mark respira fundo e grita: - Lily boboca, come casca de ferida!

- Mark! Ela vai nos matar agora! Corre! Corre!

Não sabia se corríamos mais ou se ríamos mais. Era um riso nervoso, misturado ao medo de ser capturado pelo inimigo feminino: Lily.

Contudo, entramos na biblioteca em silêncio para não atrair a atenção de Lily. Pé ante pé fomos entrando. Nesse instante nos deparamos com o Pai de Mark sentado na sua cadeira, de costas para nós. Na mesa ao lado da cadeira, um copo de uísque e um cachimbo. Eu fiz menção de ir olhar o cachimbo. Antes que eu pudesse me mexer, ouvi um forte estampido e de tão assustado, dei um grito. Um pedaço da cabeça do Pai de Mark acabou indo parar no rosto de Mark. Recebemos uma fina chuva de sangue no corpo. Alguns livros ficaram manchados para sempre. A Ilha do Tesouro é um deles. O tapete de um tom verde musgo passa a ser negro e pegajoso. Finalmente uma poça de sangue alcança nossos pés.

Lily entra na biblioteca e começa a gritar. Eu parecia não escutar mais nada. Num ato ainda mais estranho, Mark pega na minha mão e vamos até a parte da frente da cadeira. O corpo do pai de Mark jaz cortado, eviscerado. O que restou da cabeça estava pendurado como um toco de árvore velha, jazendo na poltrona. Nunca entendi o que Mark queria ver ali.

Ficamos ali parados não sei por quanto tempo. Não conseguimos dizer nada. Depois dali ficamos quase 1 mês sem dizer palavra qualquer. Os policiais não conseguiram explicar como alguém podia ter eviscerado a si próprio e ainda ter se matado.

Naquele dia, antes de sair da biblioteca, jurei ter visto olhos de fogo por trás da cortina. Uma presença horrenda estava lá dentro e só eu senti. Um cheiro forte de carne podre empesteava o ar. Eu tinha sido levado as portas do inferno pela primeira vez.

Continua...

6 comentários:

  1. Bem legal o conto, aguardo ansiosamente a continuação...
    Abraços
    Assamita

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  2. cara gostei do conto mas e o que mais?
    hehehehehe
    Abraços,
    Andrezinho

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  3. Legal mesmo o conto, aguardamos o resto.

    "Um pedaço da cabeça do Pai de Mark acabou indo parar no rosto dele"

    acabou indo parar no rosto do mark? ficou estranha essa frase.

    Abraços Elder

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  4. Mas ah! De volta aos contos.

    Bom... Muito bom. O Clima está ótimo e o começo leva a crer que coisas extraordinárias ocorrerão.

    Dois pequenos lapsos:
    - Num ato ainda MIAS estranho...
    Seria mias porque ela ea uma gata? Bom, quem falou em felina foi tu.

    - Tem um "1" ao invés de "um" em algum lugar.

    Também aguardo a continuação.
    Abraço

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  5. Erros de português caros Veiby e Elder. Corrigí-lo-ei-os. :P

    Vou continuar sim galera.

    E muito obrigado pelos comentários. Conto com vocês.

    Abração!

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  6. Ai ai... essa maniiiia de sempre ficar no continua...
    ô coisa séria!
    heheheh

    Será que dessa vez teremos um final que não seja todo bonitinho e feliz?
    =P

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