terça-feira, 27 de junho de 2006

O que é que houve?

Finalmente, ele tinha chegado.

- Pôrra, cara! Isso são horas? - resmungou o amigo, que já não agüentava mais esperá-lo na mesa do bar. Já era o terceiro chopp e o terceiro cigarro. Sozinho, este era o seu limite. Claro que enquanto aguardava o amigo, observava pacientemente as belas mulheres que cruzavam por ali. Tinha visto uma dupla que parecia "dar alguma coisa", mas como Sepúlveda não estava lá, certamente as coisas seriam difíceis. Até porque faltaria aquele ar cansado, típico do Sepúlveda, que dava um charme a ele. Não que o Sepúlveda tivesse ganho muitas menininhas com isso, mas servia bem para o Adasmator. Já que o nomes não ajudavam, Adasmator usava aquele jeitão do Sepúl (para os íntimos) como uma bela bengala para sua atuação. Tozinho (como dizia o próprio Adasmator) mostrava-se compadecido do amigo e dava aquela "força". Falava alto, dando a entender que uma grande calamidade tinha acontecido ao amigo. As moças às vezes se assustavam, e outras até acreditavam e acabavam se aproximando de Tozinho e Sepúl. Mas, invariavelmente, acabavam a noite sozinhos. Adasmator já falou bem alto quando Sepúlveda chegou, para alertar as menininhas.

- E então? Quê que houve? - Indagou Tozinho enquanto o Sepúl sentava.
Sepúl sorriu. Um sorriso amarelo, difícil de sair.

- Sabe, essa é a mesma pergunta que eu me faço a anos. Todo dia de manhã, eu acordo e me pergunto: o que é que houve? - Disse o Sepúl olhando para dentro do copo de cerveja.

Tozinho olhou de lado para Sepúl. Que papo era aquele, pensava Tozinho.
- Ô, meu querido (Tozinho sempre dizia isso quando algo não estava do seu agrado), as meninhas vão é fugi com esse papo...

Mas Sepúl estava tão absorto em seus pensamentos que parecia sequer ter ouvido.
- É sempre a mesma coisa. Eu levanto e olho em volta. E aí eu pergunto: o que é que houve? E a resposta eu não escuto. Acho que eu trocaria uma vida inteira para saber o que houve. Se eu pudesse parar o tempo e entender o que houve... Acho que eu não cometeria os mesmo erros. Trocaria uma vida sim, pelas respostas. Disso tenho certeza. E aí na próxima chance que eu tivesse pra viver, eu faria as coisas diferentes. Ah, faria.

Então, Tozinho perguntou:
- E se tu não tivesse feito nada errado? Ahn? Ahn?

- Então, tudo é só tristeza, Adasmator. Só tristeza.

Aquela noite foi a mais estranha de todas que passaram no mesmo bar, na mesma mesa. Acabaram conseguindo o telefone de 2 meninas. Se encontrariam no outro dia.

Mas, para Sepúl, o outro dia nunca veio. Tozinho foi a casa dele e teve que arrombar a porta. Afinal, aquele encontro ele não perdia de jeito nenhum. Se com aquele papo todo o Sepúl tinha ganho as moças, imagina o que viria hoje, pensava ansioso o Tozinho. Encontrou o Sepúl morto.

No enterro, viu que ninguém tinha ido. Só Tozinho estava lá. Pediu ajuda ao pessoal do cemitério para que levassem o caixão. Descobriu no fim, que eles tinham cobrado a viagem. Pelo menos o Sepúl já tinha o jazigo. Tudo pago, limpo e preparado. Ao ver isso, Tozinho deu-se conta: nunca conhecera realmente o Sepúl. Era o único amigo que o Tozinho tinha, que o ouvia sempre. Viu que nunca tinha dado a devida atenção as palavras do amigo e que talvez, aquele jeitão soturno e quieto, tivesse algum motivo. Agora, qualquer que fosse o segredo estava sepultado com o Sepúl. Tozinho tinha perdido o amigo do bar e da paquera. O único amigo que tivera nesta vida inteira. Tozinho percebeu que uma lágrima escorria do seu rosto. Então gritou:

- Pôrra Sepúl! Perdi o encontro! Tudo por tua causa! Me deixasse sozinho! Até sem amigo! Pôrra, Sepúl: o que é que houve? O que é que houve?

E pôs-se a chorar, desbragadamente.

2 comentários:

  1. Legal. Um tanto triste, mas gostei do conto.
    Só achei que tu não revisou o texto. Eu nunca sou chato com erros no text (até porque sou com mais os comete), mas desta vez algumas frases chegaram a ficar confusas...
    Mas acredito ter captado a idéia do texto sim.
    []s cara, e continue sempre se expressando.

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  2. Gostei do trocadalho!
    E do texto também! :P
    Mas prefiro qdo tu escreve coisas engraçadas.

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