quinta-feira, 1 de junho de 2006

Vida e chá

- Oi.
Ela sequer levantou os olhos. Estava lendo aquele romance. Mas eu tinha que perguntar.
- Sabe, hoje antes de eu vir para cá?
- Ainda não sei, mas tenho certeza que vai acabar me dizendo - disse ela secamente.
- Pois é... Eu tive uma conversa longa com os meus alunos. Eu estava acabando a aula e aí um dos eles falava que adorava olhar para o céu e imaginar que não estava sozinho. Sabe, existem mihlares de estrelas por aí e as possibilidades são infinitas!
- Sei. Você não vai parar não é? - retrucou ela de novo.
- Não - respondi sorrindo.

Ela fechou o livro abruptamente e me olhou. Eu continuei.
- Então... Você tem que concordar comigo. Existem milhares de planetas por aí e não é possível que estejamos completamente sozinhos e abandonados! Deve outros seres por aí! O que será que eles estão pensando? Será que eles tomam chá como a gente? Será...
- Pára. Agora.
- Mas não é difícil de imaginar, é fácil se você tentar!
- Não. É impossível. E eu não quero mais ouvir esta ladainha.
- Olha. Você tem que...
- Eu não tenho nada! Eu estudei muito para chegar até aqui. E já conversamos sobre isso antes e você sabe exatamente a minha posição! Porque você insite nisso? - ela respondeu com veêmencia enquanto servia o chá. Ela não estava brava, apenas irritada porque eu continuava insistindo.

Eu fiquei calado então. Ela me olhou, respirou fundo e disse:
- Ok. Ok. Qual a irrefutável prova científica você traz para esta cientista hoje?
Eu sorri.
- Certo. Olha eu andei lendo um estudo sobre como é possível provar matematicamente que o universo deve possuir vida em outros locais.
- Espera. Eu não discuto a existência de vida. Somente que ela exista exatamente como a gente ou no mesmo nível que agente, isto é, tecnologicamente falando.
- É um trabalho de um tal Jacobsen que...
Ela comeceu a se irritar de novo.
- O trabalho de Jacobsen já tem mais de vinte anos! Você não pode se apoiar nele! O trabalho de Bactharaya é muito mais recente e mostra que os argumento de Jacobsen estão um pouco equivocados.
- Mas... Ele mostrou a probabilidade de existência de vida!
- Só que ele usou idéias muito gerais e você não pode ser geral neste caso! Além disso, ele não levou em consideração coisas básicas como a gravidade. Claro que é um trabalho de valor extremamente importante, uma vez que ele iniciou a idéia de vida, mas ele estava errado quanto...
- Não pode ser. Eu não admito.

Ela ficou me olhando parada enquanto eu via que ela certamente tinha se irritado. E eu adorava isso.
- Olha aqui poeta: se nossas discussões são pra chegar neste ponto, eu não quero discutir mais nada com você! Seu... ignorante!
Ela começou a juntar as suas coisas e botar na mochila. Acho que exagerei.
- Não, espera. Imagina pelo menos se eles forem diferentes de nós!
- Agora chega, eu vou embora.
Fui atrás dela o mais rápido que podia. Ela se arrastava rápido até mesmo pra mim.
- Já imaginou se eles tiverem dois olhos ao invés de um? Hein? Vamos! Pense nas possibilidades! As diferenças! Vamos, você tem que admitir!

Cara, essa ía ser uma noite daquelas!

4 comentários:

  1. Cara, gostei do conto. O final me surpreendeu (e tu sabe que não é sempre, né...). Só uma pergunta, o Jacobsen do conto não é o Saulo, é? He-he-he-he

    Buenas, fico muito contente que tenha voltado a escrever.
    []s e siga assim!!!

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  2. Não sei pq, mas esse "buenas" não me é estranho...
    Viajei?!

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  3. A propósito, só eu que acha que daqui uns tempos vai faltar tempo para os projetos? Hã?!

    Muitas coisas a serem discutidas...! :P

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  4. Só uma pergunta, o Jacobsen do conto não é o Saulo, é? He-he-he-he

    SIM! É apenas uma singela homenagem. É porque ele também andou escrevendo e eu vou perguntar se ele quer que eu ponha no blog. Vamos ver...

    Ah! Que bom que tu curtiu o conto Veybi.

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