Pode parecer estranho, mas, eu juro, é a mais pura verdade.
Eu estava sentado enquanto esperava o ônibus. Havia uma garotinha loira com um pedaço de vassoura na mão, provavelmente usado para se defender. Ela parecia uma menina de rua pelas roupas pobres que usava. Tinha até um ar angelical demais, sabe, aquele tipo de pessoa que você acha que não devia estar ali. Ela ficava circulando entre o pessoal que aguardava o ônibus.
Já era tarde eu estava cansado demais para ir pra casa a pé. Olhei em volta e percebi que éramos apenas 6, 5 aguardando o ônibus e a menina de rua. Eu estava com olhar turvo de tanto cansaço. Sentado, eu tentava não dormir e ficar atento. Tinha 3 caras uns 3 metros a minha frente, uma garota, muito bonita e um cara sentado no meu lado esquerdo, distando pelo menos uns 5 metros de mim.
Os rapazes conversavam animadamente sobre rock segundo minha audição extremamente prejudicada pelo cansaço podia distinguir. A jovem bonita era uma morena bem alta e tinha um ar cansado. Segurava muitos livros e parecia triste, sei lá porque. A garotinha loira passou a correr em volta do pessoal, acho que brincando. Eu olhei para esquerda e o cara sentado parecia que estava usando uma capa-de-chuva cinza, mas eu não tenho certeza. Claro que eu pensei, "pô, o cara tá com uma capa de chuva, nesse calor, só pode ser doido! A única coisa que me preocupa é pra quê o capuz?". Ainda assim, não me importei de ficar por ali ao lado dele. Aliás, acho que se caísse uma bomba naquela hora eu não me importaria também. Eu me recostei no banco e devo ter cochilado.
De repente, senti um calafrio, uma espécie de vento frio, sabe, aquele que arrepia a alma? Pois é, acabei abrindo os olhos, olhando ao redor e passando os braços em volta do próprio corpo para me proteger do frio. Aí eu olhei e os 3 caras estavam atacando a moça! Eles pegaram e atacaram ela, assim, do nada! Aí, enquanto os 3 mantinham ela quieta no chão, a garotinha "angelical" começou a dar pauladas nela com o pedaço de vassoura. Aquilo me acordou! Dei um pulo! Fiquei olhando aquela cena e pensei "Meu Deus, eu não posso fazer nada!", então eu olhei para o lado para pedir ajuda pro cara que estava sentado a minha esquerda e ele não tava mais lá. Olhei de novo pra moça que já tinha tido a roupa quase toda rasgada, e de repente, tava lá o cara de capa! Ele chutou um dos caras e jogou os outros dois pro meio da rua. Restava a garotinha loira que parecia não estar nem aí pro que tava acontecendo. A garotinha loira parou e, de repente, voou pra cima do cara de capa gritando umas coisas muito esquisitas que eu não entendia e acertou ele com o pau. Ele pareceu não ter sentido e, com uma mão, agarrou o pescoço da garota. Neste mesmo momento, o cara atirou a garota contra a frente do ônibus que tinha acabado de chegar. Os outros caras estavam longe do ônibus e parecem não ter sofrido nada. Eu olhei perplexo para aquela cena e tentei ver o rosto do cara de capa, mas não teve jeito. A garota se espatifou toda contra o vidro do ônibus. O motorista quase teve um treco. Ainda cheguei ali perto para ver a garotinha, mas não tive coragem. Olhei em volta e o cara de capa já tinha sumido, naquela confusão. Aí vocês chegaram.
O delegado dá uma longa tragada. Ele me olha, de cima à baixo. Ele não esboçou sequer uma reação, parecia que nem estava me ouvindo. Acho que ele não acreditou em uma palavra do que eu disse.
- Libera o guri.
Os inspetores olharam pra ele, surpresos.
- A moça confirmou toda a história dele. Vai embora, guri. Tu não tem nada com isso.
- E a moça como está? - perguntei.
- Ela vai sobreviver.
Já na rua, ando umas 2 quadras até o local combinado.
- E então?
- Cara, tu ainda me mata de susto! Porra, não faz mais isso! - Digo eu, gritando.
- Desculpe.
- Qual é a próxima parada?
- Chega por hoje.
- Ótimo. Um só hoje. Ainda dá pra chegar em casa e assistir o jogo.
- Jogo?
- Sim, o futebol.
- Ainda não entendo o que podes ganhar assistindo estas coisas vulgares...
- Olha só: eu te ajudo, por que tu salvou a minha pele. Me mostrou os demônios. Eu enxerguei. Me ensinou a usar meus poderes mentais. Eu aprendi. Pediu para eu ajudar a "purificar o mundo em nome dos anjos da vingança"...
- Esperança.
- Ah, é... E tu disse que não ía interferir na minha vida. Pois é, não interfere agora que eu quero ver o jogo!
- É uma futilidade.
- É. Minha futilidade. Agora, vê se não enche o saco, tá?
- Que saco? Não vejo saco algum para encher? E encher de quê?
- Pra um anjo tu é bem tapado, hein? É o seguinte...
Enquanto isso, o bêbado jogava fora a última garrafa de uísque após assistir atentamente a discussão de um garoto com o ar sobre anjos, vingança, futebol e uma capa-de-chuva que teimava em sair de dentro da sua mochila.
Parabéns pelo novo blog. Espero que continue com teus textos (e se possível com mais freqüência).
ResponderExcluir[]s e boa sorte no recomeço.
Veybi
Ainda pensando nas possibilidades...
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