– Obrigado – eu disse.
Ela trouxe o café e as torradas ainda quentes.
“Ainda bem”, pensei comigo, enquanto tirava as luvas para comer. Mas eu não conseguia ficar a vontade. A lancheira ficava perto demais do departamento da polícia técnica. Mais precisamente, de frente para o departamento do médico legista. Eu odiava aquele lugar. Era frio e úmido. Pouco hospitaleiro. Contudo, eu precisava estar ali. Era o meu dever. Por mais que quisesse largar tudo.
Paguei a conta e fui até a rua. Ainda não entendia exatamente como as coisas tinhas acontecido. Eu olhava para o alto, para lados, como se procurasse uma resposta. Ele não podia ter feito o que queria sozinho. Ele não conseguiria. É humanamente impossível.
Fui até o carro e procurei a pasta da investigação. Olhei novamente as fotos da cena do crime. Não havia sobrado muito da moça, mas pelo menos, os pedaços ainda estavam perto. E eu que pensei que de barriga cheia conseguiria olhar essas fotos de novo. Eu olhava e analisava e não conseguia imaginar como alguém sozinho teria feito aquilo. O corpo da moça estava completamente dilacerado.
O que me deixava mais intrigado é que não havia nenhum sinal de cortes, talhos, nada. Era como se tudo nela tivesse sido arrancado, sabe-se lá como. Era assustador.
Finalmente, o legista me bipava. Fui até ele para descobrir o que eu já sabia. Não havia nenhum sinal de corda ou cabos ou qualquer coisa parecida onde ela teve os membros e o resto do corpo arrancados. O mais estranho é que todas as partes do corpo que foram arrancadas não tinha nenhuma gota de sangue.
– Isto não deveria ser normal? Afinal, o sangue que tinha neles escorreu... Não?
– A coisa não funciona bem assim... – disse o médico – É claro que o sangue deveria sair, mas deveria haver resquícios dele. Não há sequer vestígio de que tenha havido sangue naqueles tecidos, está me entendendo? Isso, não é possível.
Fui embora com o relatório do médico embaixo do braço. Abri o carro e olhei para o meu distintivo colocado sobre o banco. “O que isso está fazendo aqui? Devia estar no meu bolso...” Liguei o carro e segui para casa.
Fui devagar e, depois de mais ou menos 1 km, vi um homem parado na no meio da rua pedindo ajuda. Encostei o carro, mas deixei o revólver no bolso.
– Ainda bem – disse ele – com essa chuva toda, achei que ninguém mais passaria por aqui.
Olhei o homem de cima a baixo. Era um senhor aparentando ter certa idade. Pelo menos uns 60 anos. Parecia bastante saudável.
– O que o senhor precisa?
– Apenas de uma carona, se for possível. – respondeu.
Decidi dar a carona. Ele entrou no carro e começamos a conversar sobre amenidades. O meu distintivo caiu do bolso e ele o juntou.
– Ora, estou muito bem acompanhado. Um policial. E investigador.
O cansaço e a minha visita ao legista já estragavam o meu humor a muito tempo naquele dia e a conversa do carona não me ajudava muito. Sorri amarelo enquanto pegava o distintivo e joguei no painel do carro.
– A quanto tempo você pensa em deixar de ser policial? – disse o velho.
Olhei um pouco surpreso para ele. Afinal, como ele podia saber daquilo? Respondi, a contragosto.
– Já faz algum tempo. Mas isso não importa – finalizei, tentando encerrar de vez a conversa.
– Eu tenho experiência e posso lhe dizer uma coisa: simplesmente não é possível tentar enganar o destino. Às vezes, não temos escolhas. Alguns poucos de nós, têm uma missão a cumprir e não importa que caminho escolher, você nunca vai se desvencilhar dele: o destino. Tanto que, se você começar a prestar mais atenção, você sempre fica com os casos mais difíceis, não é? Como o desta moça, por exemplo.
Fiquei olhando o velho e quase me desconcentrei do volante. Que história era essa? Do que ele estava falando, afinal? como ele sabia do caso que eu estava investigando?
– Bem, eu desço aqui – disse ele, antes que pudesse fazer qualquer pergunta.
Ele desceu do carro. Fez a volta e foi até a minha janela, já todo molhado pela chuva.
– A propósito... Eu espero que não tenha medo de demônios. Foi um tipo Mundif que fez isso na garota. Eles adoram sangue. Você vai encontrá-lo dentro daquela garagem. Ah, antes que eu me esqueça... Isso é para você. Me mandaram entregar.
Assustado com tudo que aquele louco me dizia, saquei a arma e enfiei no pescoço dele.
– Quem mandou você aqui e porque? – disse com raiva na voz.
Ele riu, e disse:
– Ora garoto, se eu quisesse matar você já teria feito isso, não acha? Pegue, é um presente... Confie no destino.
Ele jogou o pacote no meu colo. Olhei para o pacote agora nas minhas pernas. Quando voltei a olhar para o velho, ele já havia sumido.
Fiquei um tempo ali parado, um pouco zonzo com toda aquela conversa. Demônios? Que maluquice era aquela? Me lembrei então do pacote e decidi ver o que havia dentro. Era uma espécie de luvas muito antigas. Eram feitas de material esquisito, leve, mas que parecia ser bastante compacto. Tinham uma cor negra, quase como um carvão. Dentro do saco, uma carteira de identidade. Era do velho. O seu nome era Olaf Fergusson.
Tinha como encontrá-lo agora. Mas, a minha curiosidade se aguçou, muito mais pelo o que lel me disse. Eu tinha que ir até a garagem saber o que significava aquela história de Mundif. Botei meu casaco, guardei tudo, peguei a minha arma e fui até lá.
FIM DA PARTE 1
Tu já consequiste me deixar curiosa (e isso não foi a primeira vez! hehehe).
ResponderExcluirAgora trate de colocar a parte 2! JÁ!!
hehehehe
;)