Bom, Finli é um daqueles personagens do qual eu gosto muito. Sempre estou desenvolvendo algo pra ele, assim como essa história que eu tenho a pretensão de um dia transformar em livro.
Os capítulos anteriores podem ser lidos AQUI.
Deixo agora pra vocês a 3ª parte desta história.
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O vento continuou a soprar gelado nas encostas de Akhlot. E a neve que continuava forte gelava não só a montanha, mas os corações de quem nela viviam. Sua irmã, Uliana, sabia do forte laço de amor que Finli tinha para com o pai, uma vez que o sentia em igual intensidade. Contudo, ela já não sabia o que mais açoitava o seu coração: se era pela falta do pai amado ou do seu irmão tão querido. Tão iminentes eram ambas as situações que se apresentavam, que Uliana era várias vezes vista chorando, tentando esconder o rosto em suas grossas tranças, enquanto realizava a cata de Gramuhela.
Infelizmente o chá de Gramuhela já não surtia efeito algum em Manthir. Sua dor agora era grande, mas o Akhlotiano nunca sequer demonstrou seu sofrimento. Desde o juramento de Bhandir a Betelguese, durante mais 5 meses, Finli adiou seus planos de se retirar da montanha que sempre fora sua morada. Enfim, com a chegada do 6º mês, e o surgimento de Heimdall no céu, Hera requisitava a presença de Manthir. A morte havia chegado.
Nos últimos dias da vida de Manthir, Finli se comportou de mudo muito parecido com ele. Sisudo com todos, com um tom de voz baixo e grave. Poucos sabiam o quão bonachão era um dos senhores de Akhlot. Manthir era assim com todos, exceto com Ursal, amigo de inúmeras batalhas, ainda assim, mais novo que Manthir, e seu afilhado Bhandir.
Quando Ursal e Bunya levaram seu filho Bhandir para que um dos senhores de Akhlot, Manthir, o tomasse como afilhado, alguns olhares invejosos e risinhos jocosos se espalharam pelos corredores da montanha cinzenta. Afinal, quanta ousadia um ferreiro podia ter? Contudo, poucos eram os Akhlotianos que sabiam do companheirismo entre ambos, das agruras da Guerra do Poço de Ankor-Tronin. Poucos podiam lembrar. Muitos anos já haviam se passado sem guerras e poucos eram os sobreviventes delas. Ainda assim, Manthir tomou o garoto nos braços como se fosse seu filho. E o criou com Finli, mesmo com a sentida falta que sua mulher, Ulia, lhe fazia. Talvez isso tenha sido o principal motivo que manteve Manthir tanto tempo vivo.
E era da época da infância que Finli tinha mais saudade. Talvez pelas histórias do pai, o carinho a tanto perdido de sua mãe e pelas diabruras feitas junto com Bhandir. Finli cresceu alegre, e bem menos sisudo que seu pai. Agora, porém, ele só sentia a dor que permeava a tudo e a todos em Akhlot.
No dia do funeral, Finli seguia com o cortejo que passava no largo principal de Akhlot. O corpo do seu pai jazia à frente, crivado de pétalas de Lhitia azuis, brancas e amarelas, colhidos pelos jovens que o circundavam. Atrás, viam ele e Uliana de braços dados. Uliana se desfazendo em lágrimas, mas quieta. Finli tinha sua face cristalizada de dor. Logo atrás vinham Ursal, Bunya e Bhandir.
Pelo menos 3 reses atrás, seguiam o restante dos moradores de Akhlot. Alguns carregavam pequenas bigornas na cintura e um martelo na outra mão. De tempos em tempos, eles brandiam o martelo contra a bigorna, lembrando a todos que Akhlot e feita de ferro e assim como são seus filhos.
Outros carregavam velhos estandartes de guerra, lembrando do passado heróico de Manthir. Finalmente o funeral tinha alcançado o topo de Akhlot pelas Escadas da Penintência. A neve branca parecia ainda mias alva. Um céu completamente nublado parecia dar as boas vindas a Manthir, uma vez que um rasgo do tamanho do topo de Akhlot se abria no céu, jogando luz, naquele pedaço de terra. Vendo o inusitado espetáculo que se descortinava a sua frente, Finli olhou para trás, como se achasse indigno daquilo. Ele então, caiu de joelhos. Sem emitir sequer um som, as lágrimas começaram a correr vívidas na sua face. Seu olhar marejado percorria um mar de sres que choravam junto à morte de um dos mais respeitáveis criaturas de Akhlot. Era impressionante ver o quanto aquele senhor de poucas palavras era querido, ou pelo menos, respeitado como um herói de Akhlot deve ser.
Erguendo-se com a ajuda de Ursal e Bhandir, foi lhe passada a tocha de Sutur para a Purificação. O corpo de seu querido pai agora estava posicionado na Passagem de Valqui e pronto para partir.
- PAI! – gritou ele, erguendo a tocha e ateando fogo ao corpo do seu pai. Seu bramido era um longo e profundo lamento, um berro de desespero. Um pedido para que as portas de Valqui estivessem abertas para quando Manthir ali chegasse.
Em resposta, a multidão que prestava seus respeitos fez um barulho ensurdecedor de metal e gritos erguidos aos céus. Todos ali se emocionaram com o fim de Manthir, no dia que depois ficou conhecido como Hera-Undin-Manthir.
E então, fez-se o silêncio. Finli olhava o crepitar do fogo. O reflexo do fogo na neve branca fazia-o parecer uma chama quase azul. O céu abruptamente se fechara, e pequenos flocos de neve caíam sobre todos. A purificação de Finli também havia chegado com o fogo que agora consumia o corpo de seu pai. Ele não tinha mais nada a fazer ali. Era chegada à hora de Akhlot presenciar a partida de mais um de seus ilustres filhos, para que um dia a Montanha Cinzenta pudesse vê-lo retornar.
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