Algumas considerações.
Pretendo continuar com os contos. Sim, não adianta chorar. Vocês vão ter que me engolir! Vou reeditar algumas coisas enquanto estou na correria.
Outra coisa: gostaria muitíssimo de retomar a sessão CC, ou melhor, o Conto do Comentário.
Mas que catzo é isso, pergunta o incauto leitor. Simples. A cada comentário que fizerem, vocês deixam uma frase ou um tema para um conto. Se mais de um leitor enviar comentários contendo uma frase, eu devo escrever um conto envolvendo TODAS as frases que foram enviadas. Se for um tema, aí cada assunto postado, independente da quantidade de comentários, deverá gerar um conto único.
Bom, aguardo suas idéias mirabolantes. Enquanto isso fiquem com o conto Carona, escrito faz um tempinho já.
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Me lembro exatamente de quando a minha vida começou...
Era um dia como outro qualquer, a não ser pelo fato de um ônibus desgovernado ter estraçalhado o meu corpo contra a parede.
Ora, o que foi? Surpreendi você? Eu nasci assim. Como assim “morrendo”? Talvez seja melhor explicar algumas coisas... Aí, talvez você entenda...
Na realidade, é bastante simples. Eu era um cara comum. Não acreditava em nada. Não buscava nada. Aliás, minha vida era um imenso nada.
Nada acontecia nela, na verdade. E eu também não dava muita chance pra que acontecesse. Tudo pra mim era um enorme quadro com um único tom de cinza. Meus pais eram assim... Um tanto quanto frios. Acho que a única vez que eles me tocaram foi quando acharam que eu estava doente. Foi na ponta do queixo. Me pediram para abrir a boca, mas eu não conseguia. Meu coração tinha disparado quando minha mãe encostou sua mão no meu queixo, tão próxima da minha boca. Aí eles tiveram certeza que eu tinha algum problema. Alguma coisa no coração, com certeza. Por ironia fui morar com uma avó que tinha problemas no coração, longe deles.
A minha avó era uma mulher simpática. Mas já tinha problemas demais consigo mesma. O coração era forte. Tinham me enganado. O álcool é que a corrompia dia após dia e era difícil sequer falar com ela. Ela bradava pela culpa que o meu avô tinha nesta história desse seu vício e por ter deixado ela, mas eu tenho certeza, ele sabia o que estava fazendo.
Assim como ele, também abandonei minha avó, só que um pouco antes, logo aos 15 anos. Saí em um dia de chuva e mesmo assim, não chorei minha partida para uma vida dura e sequer comemorei quando encontrei uma carona.
Cresci assim, pulando de um reformatório a outro. As diretoras nunca se queixavam de mim. Eu era quieto o suficiente para não incomodar ninguém.
Finalmente, aprendi a ler e escrever. E aí alguma mudança começou a se operar em mim. Percebi que eu tinha perdido um mundo inteiro do lado de fora. Eu lia livros que contavam maravilhas. Eram mundos de sonho, de amor e de ódio. Era um mundo de sentimentos. Coisa que eu nunca tinha experimentado antes. Ainda assim, isso não me parecia o suficiente.
Aos poucos, a vida passou a me interessar mais. Comecei a reparar que algumas coisas possuem uma beleza inigualável e quanto tempo havia perdido. Pela quantidade de livros que li e acabei realmente entendendo, posso dizer que me tornei um cara culto. Mas, não conseguia ter aquela vivacidade que algumas pessoas têm, nem de longe. Continuava o mesmo cara frio de sempre.
Arranjei um emprego. Eu vendia assentos de privadas. É, você não imagina o quanto pode ser interessante vender assentos para privada.
Aí, foi quando me deparei com o rosto dela. A mulher mais linda que eu já tinha visto. Ela era fantástica, perfeita no seu modo de ser, pelo menos segundo o que os meus olhos me descreviam. Olhei em volta e pensei em como ela passava desapercebida, sem causar tumulto ou comoção pelas ruas. Meu coração disparou descompassadamente. Era como se minha mãe tivesse tocado no meu queixo novamente, só que muito, muito maior. Eu tinha me apaixonado. Naquele exato instante, o meu relógio da vida tinha finalmente sido ligado. Eu percebi que existia algo além de tudo que cercava as pessoas. Havia mais, e eu sabia disso. Pela primeira vez, eu sorri. Ela passou e me notou ali, estático. Ela sorriu e continuou o seu caminho.
Eu deixei cair as maçãs que carregava, sabe-se lá a quanto tempo. Me abaixei para pegá-las. E então, não tive tempo de sequer saber o que havia me atingido. Então, eu nasci. Eu estava lá parado ao lado do ônibus, achando que ainda segurava alguma coisa.
Eu tive tudo para me livrar do estigma que recebi. Eu tive escolhas. Eu tive oportunidades para mudar. E eu vi que a vida passou enquanto eu fiquei parado, esperando por uma carona. O único detalhe, é que nem sinal eu fiz para que ela parasse.
Eu tinha a maior dádiva imbuída em mim mesmo. E não fiz nada para aproveitá-la. Eu era um morto, e não sabia disso.
Ah, você está chorando. É bom. É, isso é muito bom sim. Pena que você só tenha se dado conta disso agora. Viver melhor? Não você não entendeu nada, não é? Você morreu nesse mundo. Passou. Como acha que ficou me ouvindo este tempo todo?
Não, você não tem escolha. Eu levo você daqui e te mostro uma coisa ou duas. Temos muito que fazer. Pense por esse lado, você vai tentar ajudar outras pessoas como nós dois um dia fomos. Basta tentar evitar que o que aconteceu com a gente aconteça com eles.
Vamos, eu explico tudo. Não, eu não vendo mais assentos de privada aqui. Eu vendo passagens agora e dou carona para uns perdidos como você. Mas isso é uma outra história.
HAHAHAAH, muito boa a idéia, mas tu tem certeza que quer que a gente dê idéias pra conto? Tu sabe como teus amigos são terríveis, tem uma chance beeeem grande de tu odiar a gente mais um pouco.
ResponderExcluirVou começar com um tema que eu gostaria de ter jogado contigo, imagino que assim tu vai ter pelo menos uns 3 ou 4 lendo teu conto. O tema é
"A última aventura do Evil Pack". Acho que vai ser legal saber a tua visão não só pro fim do Adtani, mas pra todos nós.
Abraços
Assamita
Sou parceiro, gostei da idéia do assamita.
ResponderExcluirO conto é legal, gostei dele. Mas conto re-postado não vale, até porque eu me lembro de ter lido ele. Queremos coisas novas.
Frase a ser incorporada no próximo conto.
"O sangue não foi forte o suficiente."
Elderheymn