Era um momento muito importante. Eles sabiam que aquele era provavelmente o momento mais importante da vida deles. O destino do mundo estava agora nas mãos destes destemidos agentes, que decidiram dar a própria vida, se necessário fosse, para salvar a humanidade. Infiltrados dentro do covil do vilão mais letal que o planeta Terra poderia enfrentar, eles finalmente tinham encontrado a máquina que poderia destruir a existência da vida neste planeta.
- Muita calma agora.
- Porque?
- Porra, não tá vendo que tem um laser aqui?
- Não, onde? Eu era escritor antes, sabia?
- Aqui ó! Arigó.
- Tá, tá. E o que fazemos? Tu és físico, deve entender destas coisas...
- Hum... Certo... Deixa eu ver uma coisa aqui...
Alguns minutos depois...
- Olha, pelo que eu vi aqui... Esse laser leva direto para a máquina do juízo final.
- Bom, ainda bem que descobrimos. Afinal, para isso que estamos aqui. Os intrépidos agentes especiais. Missão: salvar o mundo.
- Hã? Tá falando com quem, desse jeito afetado? Só tem nós dois aqui.
- Anh... Ninguém.
- Tá, então. Olha só, essa tua atitude tá me dando nos nervos. A coisa é séria aqui. Nós vamos precisar de ajuda.
- Peraí, deasarma isso! Tu és o físico! Tu conheces os mistérios insondáveis das nanocoisas... A poesia matemática das infindáveis operações que governam o universo micro e macroscópico. O inerente caos universal e sua ilusória desordem cósmica, a... Que foi? Porque ta me olhando assim?
- Nada, não. Tá... Olha só... Eu já entendi. Vou tentar...
2 horas depois...
- Não dá pra desarmar. É... Bom... O reator... de... de fluxo. Ele tá alinhado com o capacitor de campo. E quando isso acontece... É complicado, em termos leigos. Que foi?
- Hum... Olha só Seu Físico, não é por nada não... Só que eu acho que tu estás me enrolando...
- Qu... Quem? Eu? Ora, porque... Como?
- Viu? Tá né?
- Tá bom. Tô. Não faço idéia do que tá acontecendo aqui.
- Cacete! É só um laser de merda! Como tu não sabe? Tu és físico!
- É... E tu nem parece escritor! Fica dizendo essas bobagens...
Os dois permanecem em silêncio durante alguns instantes.
- Eu confesso. Eu... Eu sempre fui considerado um péssimo escritor.
- Puxa, eu achei que tu fosse contar alguma novidade.
- Bem, parece que tem alguém aqui que se diz físico, mas nem ao menos sabe como funciona um laser.
- Certo. Tá bem. Eu sou um físico muito ruim também.
Os dois ficam se olhando. Ambos se atiram ao chão.
- Eu escrevia, em todo lugar... Internet, cadernos em casa, portas de banheiro... Tudo. As pessoas acabavam me dizendo que só eu entendia meus contos... Nem meus amigos entendiam. Diziam que eu atirava as coisas... Que eu não queria posicionar as pessoas no conto...
- Em suma, diziam que você era péssimo certo?
- É. Certo.
- Bom, eu era físico... Quer dizer, eu achava que era... Cheguei a trabalhar em um laboratório de pesquisa durante um tempo, só pra ter certeza que seja lá o que eu fizesse lá dentro, nunca ia servir pra nada. Eu tentava... Me enganar. Eu dizia que aquilo era importante e tentava vender essa idéia... Acabei um dia saindo de lá. Fui dar aulas em outras escolas e universidades só para ter certeza que os outros também não queriam saber de nada. Que também só se enganavam. Consegui meu doutorado, mas nunca acreditei muito nele mesmo. E agora, me deparo com um laser... E sequer imagino o que fazer para desligar essa porcaria!
- Ei, não chuta isso não!
O físico acaba chutando a máquina. Mas nada acontece.
10 horas depois, e após muita lamentação...
- É. O rádio não funciona.
- O sinal deve ser fraco dentro da terra... Estamos embaixo de uma montanha... Não tem jeito de chamarmos ajuda.
- É isso aí escritor...
- Sabe, como você entrou pra Agência? Eu simplesmente cheguei no escritório e me contrataram... Aliás, pensando bem...Isso é muito estranho...
- Estranho foi como me contrataram... Olharam meu currículo e disseram que meus conhecimentos eram muito importantes... Blá-blá-blá... E aqui estou.
- Estranho, mandaram um escritor e um físico encontrar a máquina do juízo final. Porque não mandaram gente mais qualificada...
- Olha, isso faz parte do conto... Senão, não estaríamos aqui.
O escritor lança um olhar estranho para o físico.
- Do que diabos tu estás falando?
- Olha, isso faz parte da história que está sendo escrita neste exato momento.
- Tu pirou de vez físico? Que história?
- Quem em sã consciência diria: “os mistérios insondáveis das nanocoisas... A poesia matemática das infindáveis operações que governam o universo micro e macroscópico. O inerente caos universal e sua ilusória desordem cósmica”... essa babaquice toda?
- Eu disse! Espera aí...
- Que foi?
- Eu já sei quem está escrevendo essa história!... Só pode ser e... – Ao pensar isso, o escritor levanta-se de repente, botando as mãos no feixe laser.
- Cuidado o lase... – grita o físico.
E finalmente o mundo acaba.
Estavam fazendo falta estes textos!!! Ironia de quem entende!!!
ResponderExcluirGrande abraço, e um ótimo retorno!
< modo sacana e convencido on > Óbvio que o mundo acabou. Tinha um físico e um escritor. Faltava um engenheiro para resolver < modo sacana e convencido off >
ResponderExcluirBrincadeira à parte, ótimo retorno. E SIM, eu entendo teus contos. E quer esteja no centro da terra (ou no centro do RS) o sinal do rádio nunca vai ficar fraco demais para falar com os amigos. Ainda mais porque tu, como um dos iniciados, sabe a verdade: "there is no spo..." Qur dizer, "There is no laser!"
Abração.
Muito obrigado pelos comentários! É sempre bom vê-los por aqui!
ResponderExcluirFraternal abraço!