Sei que ando meio ausente do blog. Muita coisa mesmo acontecendo. E fica difícil dar a atenção necessária ao blog.
Mas eu vim falar sobre outra coisa hoje. Há não mais que 20 minutos atrás e vi um atropelamento. Bastante brutal eu diria. Um carro passou por cima de um cão, daqueles com cara de labrador, mas bem vira-lata. É, eu estou tentando ser tocante sim. Só que foi real.
Eu estava esperando o ônibus, naquele horário esdrúxulo que vocês conhecem, em uma avenida de 3 pistas aqui de Porto Alegre. Vi um cão atravessando a rua e até aí tudo bem. Ele atravessou com toda calma do mundo. Eu olhei para os lados para ver se não havia carro nenhum vindo naquela direção. Vi que não havia perigo algum para o animal, mas aquele pensamento do tipo "com essa preguiça toda é bom ele se cuidar pra atravessar a rua" apareceu na minha mente.
É interessante que continuei ali parado. Esperando o ônibus. Não que eu tivesse algo pra fazer. Contudo, eu estou sempre me cuidando nessa hora, olhando para os lados. Rapidamente a atenção que havia dado ao cão já era voltada pra cuidar de eu mesmo. De repente, olhei para um carro verde escuro vindo bastante rápido e, instintivamente, procurei pelo cão. Ele estava atravessando naquele momento. Eu vi o que ía acontecer. Minhas pernas se retesaram, e eu cheguei a emitir algum som, um grunhido. Estiquei o mão em direção a ele como se eu pudesse tirá-lo daquela situação. Era tarde já. O carro chegou a frear um pouco, praticamente encostando no animal, que ganiu. Logo depois ele acelerou, jogou o bicho uns 3 metros pra frente, e passou por cima.
Estranhamente, levei minhas mãos até a cabeça e deixei que elas alcançassem minha nuca. Apertei minha nuca forte com ambas as mãos e fechei os olhos com força. Uma moça do meu lado gritou e, começou a chorar. Outros dois srs. apenas lamentaram. Eu fiquei mudo. Senti uma dor forte na boca do estômago. Me lembrei de um atropelamento de uma mulher que vi em frente ao hospital, em um dia em que eu trabalhava em um vestibular. A boca do meu estômago pareceu dar um nó por um momento. Eu olhava para aquelas 3 pessoas junto comigo na parada. Apesar das diferentes reações havia um consenso quanto a situação: impotência. Nada podíamos ter feito, sem que arriscássemos nossas vidas.
Vi que o ônibus vinha chegando. Subi e agora estou aqui. Escrevendo. Não é todo dia que eu vejo "ao vivo" isso. É preciso estômago. Eu sei, foi um cachorro vira-lata e pulguento. Mas eu conheço pelo menos uma dúzia de pessoas que talvez merecessem esse fim mais do que o cachorro. Eu não acredito em acaso. Se o cachorro serviu de lição para qualquer um de nós ali, inclusive o motorista, espero que tenha valido a pena. Não sei o que se pode tirar daí, se é que é possível tirar alguma coisa de algo tão brutal quanto isso.
Me impressionou muito a falta de ação de todos ali. Minha ausência. A ausência do motorista que podia ter parado, pois nenhum carro vinha atrás dele. A ausência de vida do cão. A ausência da rotina. A ausência da raiva. Enfim, a ausência.
Estou finalizando a continuação do conto. Bem devagar. Eu volto.
Acho que não é bem impotência, é raiva mesmo. Raiva de um idiota que simplesmente não quis se dar o trabalho de parar, ou de mudar de pista ou de sei lá o quê para evitar...
ResponderExcluirBem, pelo menos é o que eu sentiria!
=P
bjocas