quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Uma história de super-herói(?)

Estava cansado. Tinha chegado a pouco da minha ronda e precisava dormir. Mas, eu não conseguia. As imagens dos últimos acontecimentos ainda não saíam da minha cabeça. Um dia após o outro eu via diversos seres passando ao alcance do meu toque. Um toque capaz de muitas coisas. Um toque que eu não era capaz de sentir. Mesmo assim, a vida que eu vivia agora era sempre correndo. Ou fugindo, ou perseguindo alguém, ou alguma coisa. Nunca foi o que desejei para mim. Enquanto eu caminhava e divagava, olhava para as minhas luvas, aquelas que tinham sido o maior acontecimento da minha vida. Se eram o melhor ou o pior, eu ainda não tinha certeza.

- Redentor! - Olhei em volta, após ouvir uma voz familiar chamar por mim.
- Aqui em cima. Estou sem sono. Quer conversar? - Disse o meu mais recente amigo, Escudo.

Olhei para cima e o vi flutuando um pouco acima da beirada do prédio, como ele sempre faz. Enquanto eu subia as escadas até o terraço eu lembrava que, às vezes, eu tinha inveja dessa capacidade que ele tinha. Ele podia voar quando quisesse. Eu, só quando as luvas queriam. Eu sei, eu estava aprendendo, mas nunca pude voar pelo simples prazer de voar. As luvas tinham um propósito. Eu deveria servir à elas, e não elas me servirem. Entretanto, as técnicas de meditação estavam ajudando e, com muito esforço, eu já conseguia flutuar como ele, como se as luvas dissessem "Está bem, eu vou ajudar você, mas só um pouquinho".

- Bela vista, não? - disse Escudo, ao me ver chegar.

Me aproximei da beirada para me certificar. Era uma noite clara. A lua estava alta e grande no céu, enquanto um halo de luminosidade parecia protegê-la como um campo de força. A neve que refletia a luz do luar deixava uma brilho fracamente azulado ao redor da paisagem. As folhas nas árvores se mexiam levemente sob a brisa gelada que vinha do norte. E a sombra da montanha atrás da Escola, a qual sempre parecia um gigante tentando engoli-la, era bem menos ameaçadora.

- Seu turno da vigia? - perguntei.
- Não. Decidi deixar o garoto dormir. Eu estava sem sono e ele praticamente dormindo em pé. Já pensou no Bricker caindo de cara no telhado após desmaiar de sono?
- Podíamos pousar o avião diretamente no hangar, sem abrir a porta... - falei com um sorriso amarelo.
- Continua tentando decifrar o seu fardo? Não me parece muito feliz... - retrucou Escudo.

Baixei a cabeça e olhei para as luvas sem dizer nada.

- Talvez eu entenda mais do que você pensa... - disse Escudo, sem que eu dissesse sequer uma palavra.

- Redentor, será que você já se perguntou se realmente deveríamos estar aqui? Será que deveria realmente existir um Escudo, ou um Bricker, ou até o Redentor? Eu não duvido dos propósitos divinos, mas veja o que acontece ao nosso redor: somos perseguidos e caçados e eu posso lhe dar uma dúzia de causas diferentes para que isso tudo ocorra. Mas, será que nossos inimigos não estão certos?

- Só porque somos diferentes? O que está dizendo, enlouqueceu? - respondi com certa fúria em minha voz.

- Não, e eu tão pouco concordo com isso. Veja, se somos superiores física e metalmente aos demais, e impedimos que coisas ruins aconteçam, nós estamos realmente fazendo o que é certo? Veja suas luvas, por exemplo, elas lhe deram o poder, ainda que quando elas querem, de ser o juiz, o júri e o algoz de toda uma espécie de seres que julgamos serem maus... Eles atacam e matam humanos, mas será que não é isso mesmo que deve acontecer?

- Você não pode estar falando sério... - respondi, assustado.

- Outro exemplo: Bricker. Ele é um garoto e provavelmente, um dos seres mais poderosos que já habitaram a Terra. Já imaginou quando ele for mais velho e estiver no seu auge? Já parou pensar que talvez toda aquela história de me prenderem foi para que eu não atrapalha-se o real motivo da existência do Bricker? Será que não é ele que está sendo perseguido para criar uma nova raça de super-seres? Já imaginou mulheres inseminadas com o sêmen do garoto, e o que teríamos?

- Beterrabas tamanho GG? - respondi ironicamente.

Escudo me olhou sério. Durante 3 segundos.

- Ele é roxo! O que esperava... - complementei.

- O grande problema é que a maioria das pessoas, humanos, pensa como eu estou lhe dizendo. Nós, metahumanos, somos vistos como uma ameaça a sociedade humana comum e, pelo menos em parte, eles têm razão. Muitos de nós trocam socos primeiro e perguntam depois. Não deveria haver a diferenciação. Devíamos tentar resolver nosso problemas e diferenças juntos e não tentar nos defender uns dos outros... Às vezes, penso que se o Escudo não existisse, tudo seria melhor. Talvez, nós só estejamos matando a borboleta antes dela sair do casulo... Impedindo que algo melhor venha a surgir.

Olhei o Escudo com muita atenção e surpresa. Debaixo daquela aura azul de pura energia e de toda aquela serenidade e formalidade, havia um ser humano.

- Sabe de uma coisa: por tudo isso que você é, você é o meu metahumano favorito. Cara, você é simplesmente um super-herói. Só os verdadeiros super-heróis se preocupam com isso. Com o certo e o errado. E você está lutando para não perder isso. Eu ainda tenho muito que aprender com você...

- Obrigado. Você é um grande amigo. E preciso aprender a rir disso tudo de vez em quando. - diz Escudo.

- Já pensou em como seria estar num gibi? Nós íamos ganhar muito dinheiro. - disse eu, zombando.

- Como seria?

- Redentor e Escudo, contra o mal.

- Quem sabe Escudo e Redentor?
- Os mutunas! Que tal?
- Nossa, você é péssimo nisso... Vamos descer. Tem uma pizza no freezer. Eu vou esquentar com as mãos.

- Podia deixar de ser tão exibido...

Enquanto ríamos das bobagens que dizíamos, eu notei que eu não estava só. E que pelo menos, eu não tinha perdido aquilo que realmente importava: minha humanidade.

3 comentários:

  1. Tenho a impressão de que eu já li essa história e que inclusive já postei algo sobre ela também. É legal porque é exatamente o tipo que coisa que eu não costumo tratar muito e que eu sei que tu gosta de dar uma atenção especial. Pra mim, isso acaba sendo interessante e me pilha a explorar mais o meu personagem. Confesso que sinto saudades de jogar com Raven e fazer o papel de mãe adotiva do Bricker. hehehe.

    Continue o bom trabalho.

    Elderheymn

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  2. Pois é...

    Também acho que está na hora de os heróis voltarem...

    Aguardem notícias... E valeu!

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  3. Por falar em super-heróis voltarem, quando vamos jogar, hein?!
    Tá virando lenda isso! =(

    bjoca

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